Fim do Capitulo
DECIMO SEGUNDO CAPITULO
As luzes brilhantes no terminal principal do
aeroporto Charles de Gaulle queimaram os frágeis olhos de Clementine,
obrigando-a a fazer uma parada em uma farmácia e comprar um par de óculos de
sol, uma venda e alguns comprimidos.
Ao cruzar o saguão, ela se viu
procurando por ele. Na fila, enquanto esperava, até mesmo quando passou pela
segurança, metade dela esperava ouvir aquela profunda voz russa, para virar e
mergulhar em seus olhos novamente. Mas que bem aquilo faria? Ele não a amava.
Ele não a amaria. As últimas semanas foram uma fantasia. Clementine estava
certa na pequena loja de calçados quando o viu pela primeira vez: Serge era um
cossaco de uma história épica. Ele não iria atrás dela. Não mais.
Realmente acabara. Era hora de seguir
em frente com sua vida.
Ao se sentar em seu assento no
corredor, seus pensamentos se voltaram para o jato particular e ela percebeu o
quanto aquele período com Serge havia sido surreal.
Em menos de duas horas, ela estaria em
seu país adotivo e a vida começaria de novo, mais ou menos como tinha sido
alguns meses antes. Ela se lembrava de como se sentia em São Petersburgo,
quando pensou que o perdera, a pequena palestra que deu a si mesma sobre sua
experiência com Joe Carnegie, sobre como começar sua vida de maneira proativa.
Mas agora ela estava achando difícil
imaginar, tinha esquecido Joe Carnegie e não conseguia achar um jeito de viver
nos próximos dias e muito menos pensar sobre seus sonhos e ambições de novo.
Porque ela se permitiu sonhar com Serge e seus planos agora estavam em ruínas.
Um passo de cada vez, reconheceu sua
mente cansada.
Quando encostou a cabeça no assento,
fechou os olhos. O ruído no avião deixou de incomodá-la e ela dormiu.
ERAM 5H da
manhã quando Clementine chegou ao aeroporto com sua bagagem. Ela se perguntou
como pegaria um táxi, e considerou rapidamente telefonar para Luke até perceber
a hora.
As pessoas a acotovelavam por ela estar
parada no saguão, mas Clementine possuía uma mala, uma bagagem de mão e uma bolsa
e apenas dois braços. Ela se atrapalhou buscando em sua bolsa o dinheiro para
um café. Precisava de um fôlego antes de se recompor e voltar para casa.
Com o canto do olho, viu sua mala ser
levantada e retirada de sua linha de visão. Ela deu um grito:
– Ei!
Até seus olhos alcançarem aquele homem
de 1,95m, musculoso, vestindo calça jeans, casaco e uma camiseta que a
recordava da intensidade do verde de seus olhos. O choque deu lugar a uma
confusão emocional. Então ele tirou a bagagem de mão de debaixo do braço e
saiu.
– Serge!
Por um momento de choque ela ficou
imóvel enquanto ele se afastava. Com seus pertences.
– Serge! – Ela correu atrás dele. –
Espere! O que você está fazendo?
Ela se esquivou e se enveredou pela
onda de pessoas que vinham na outra direção, mas estava quase o perdendo de
vista. Ele estava com a cabeça e os ombros acima da multidão e parecia não ter
pressa. Era apenas o comprimento daqueles largos e decididos passos.
– Pare! Pare! – gritou Clementine, sem mais se
importar com o que achariam dela. Serge fora até ali por ela. Jogou-se em suas
costas no exato momento em que ele parou.
Ele jogou toda a sua bagagem e se virou
sua expressão tão feroz que ela deu um passo para trás.
– Da – disse
ele, ferozmente. – É bom que você me persiga um pouco. Como se sente,
Clementine?
– Eu não sei – falou ela sem pensar,
ainda tentando se estabilizar com sua presença. – Como você chegou aqui?
Foi à questão menos importante que veio
à mente, mas seu cérebro parecia ter entrado em um curto-circuito.
Ele fez um gesto de “não importa”,
assim como o Serge que ela amava, rei de seu próprio feudo. Como se as questões
práticas da vida que incomodavam a população em geral não tivessem nada a ver
com ele.
– Você gosta de fugir, não gosta, kisa?
Desde a primeira vez que pus os olhos em você, tive que ir atrás. Por que seria
diferente agora?
Seu tom era quase meditativo, mas seus
olhos estavam carregados e selvagens como ela nunca tinha visto.
– Eu não estou fugindo. Estou voltando
para casa. As férias acabaram Serge. Você deixou bem claro. Você me levou a
Paris para terminar comigo. – Sua voz vacilou. – O momento mais romântico na
minha vida e você simplesmente jogou fora.
Seu rosto ficou sem cor conforme as
palavras se afundavam e por um momento ela experimentou um pouco de satisfação
por ele entender quão verdadeiramente terrível tinha sido aquela experiência
para ela. Em seguida, uma profunda tristeza começou a invadi-la, ramificando-se
por cada canto de seu corpo.
– Não era minha intenção – disse ele,
com uma voz profunda e quebrada. – Clementine, por favor, acredite em mim,
nunca foi minha intenção magoar você.
Mas magoou.
Seu corpo inteiro gritava e ele estava
ali, de pé, parecendo feroz, perturbado e desesperado.
– Vá e encontre outra menina, Serge –
disse ela, com pesar. – Tenho certeza de que há milhares de mulheres sozinhas
em Nova York que ficariam felizes em tomar o meu lugar.
Ele estendeu a mão para ela,
inclinando-se e, de repente, tudo o que ela podia ver era uma agitação dentro
dele e algo mais. Algo despertado por suas palavras.
– De onde você tirou isso? Quando foi
que eu olhei para outra mulher desde que conheci você?
Por um longo momento, seu coração
parecia grande demais. Se ele ao menos estivesse sendo verdadeiro. Mas ela
sabia que não poderia ser verdade.
– Você tem um histórico, Serge. Acha
que eu estava vivendo em uma bolha em Nova York? Aonde quer que eu fosse, ouvia
sobre suas mulheres cabeça de vento. É assim que você é com as mulheres.
– Não com você, Clementine.
– Nós estávamos fazendo sexo, Serge –
bramiu ela. – Tudo se resumia a sexo. Você me disse. Como eu deveria me sentir?
Como vou lidar com isso? Eu não tenho aventuras casuais. Não sou assim.
– Eu sei que você não é assim.
Ela balançou a cabeça, sacudindo o tom
suave e persuasivo de suas palavras. Palavras sem significado, vazias.
– Eu não vou voltar com você, Serge.
Está tudo acabado.
Ele pegou sua mão.
– Não.
Não era uma declaração. Era um pedido.
Um argumento. Não.
Aquilo lhe deixou com mais raiva do que
podia suportar.
– Eu esperava mais de você, menino
rico. Você não é tão irresistível assim.
Ele não replicou e, de repente,
Clementine queria que Serge soubesse o quanto havia ferido seus sentimentos.
Mas ela também queria que ele soubesse que ele não tinha nada de especial.
– Eu conheci outro cara como você,
Serge, um ano atrás. Um cara rico que achava que só tinha que jogar seu
dinheiro para o alto e tudo passaria a lhe pertencer. Ele namorou comigo por
seis semanas. Comprava roupas para mim, pedia que eu usasse as jóias que ele me
dava e, então, ele me ofereceu um apartamento porque não queria visitar o lugar
de baixo nível onde eu morava. O problema era que ele estava noivo o tempo todo
e não tinha intenção de que eu fosse outra coisa que não sua amante. Apenas
mais um cara procurando sexo sem compromisso com uma menina fácil.
Serge estava olhando para Clementine
como se ela o tivesse socado.
Ela respirou fundo, baixando a voz.
– Só que eu não dormi com ele. Porque
compartilhar meu corpo com outra pessoa significa muito para mim, Serge. E a
única razão pela qual estou lhe contando isso é para que saiba o que eu
coloquei em jogo quando eu fui com você para Nova York.
– Clementine...
Ouviu-o pronunciar seu nome, mas
ignorou cheia de emoção, sem saber mais o que estava dizendo ou revelando e sem
se importar.
– Eu não me encontro com ninguém há um
ano... Até conhecer você e arriscar. Você se encaixa no perfil, Serge.
Dinheiro, carisma, o tipo de cara que é dono do mundo. – Ela balançou a cabeça
com desgosto. – Mas eu pensei que você fosse uma boa pessoa. Mas no final,
Serge, você é pior que ele, porque me fez acreditar que se importava comigo.
Tudo o que o outro cara fez foi me fazer de idiota.
Serge estava em silêncio. Então ele
disse, parcamente:
– Você deveria ter me contado isso.
– Estou contando agora. Eu só queria
ter um namorado – disse ela, friamente. – Eu queria ser uma garota normal para
variar um pouco, que recebe proposta de namoros em vez de propostas de
negócios.
– Eu nunca fiz uma proposta de negócios
para você.
– Claro que fez. Você me pediu para ir
com você a Nova York e meu primeiro pensamento foi: “Ótimo
outro idiota.” E adivinha? Eu estava certa.
– Nós ficamos sem tempo – disse ele,
suavemente.
– Eu sei. Por isso eu aceitei. Porque
pensei que talvez pudesse lhe privilegiar com o benefício da dúvida. Pensei que
você havia me enxergado Serge, como eu sou de verdade. Mais eu me enganei.
– Eu enxergo você. – Serge tocou sua
bochecha e, quando ela se encolheu, virou seu rosto para fazer com que ela
olhasse para ele. – Eu enxergo você de verdade – repetiu ele, com o dedo segurando
possessivamente seu queixo.
– Não, você não me enxerga de forma
alguma. Tudo o que vê é o que todo mundo vê: a Clementine sexy vivendo em seu
mundo – disse ela, com amargura. – Ontem você deixou isso muito claro. É só
pelo sexo, você disse. Apenas sexo.
– Isso não é verdade, Clementine. Eu
menti para você.
Ela ficou quieta.
O corpo inteiro de Serge estava
tensionado.
– Eu não queria sentir o que sinto por
você. Meus pais tinham muita paixão em seu casamento, Clementine, e isso acabou
com tudo. Meu pai achava que amar significava aniquilar a outra pessoa. Eu
jurei que nunca faria isso e sempre que eu me via me aproximando de uma mulher,
recuava. Até você aparecer.
Seus olhos se suavizaram ao vê-la.
– Tudo com você têm sido diferente. A
partir do momento em que a vi naquela pequena loja, vi seu sorriso, você me
convidou a entrar. Foi como ser criança de novo, seguindo você por aquele
caminho. E quando não deixou que eu cuidasse de você, fiquei perplexo. Eu não
poderia deixar você lá.
Seus olhos verdes, tão ferozes enquanto
ela lançava acusações contra ele, foram ficando ternos e seus olhares se
encontraram.
– Eu estou seguindo você desde então.
Ela piscou.
– Estou apaixonado por você,
Clementine.
Ela sentiu as pernas vacilarem.
Sentou-se pesadamente em sua mala e Serge caiu de joelhos ao seu lado, no meio
de um terminal do aeroporto, sob luzes implacáveis. Mas tudo o que Clementine
conseguia ver era o homem que ela amava à sua frente, de joelhos, declarando-se.
– Então por que você quis me afastar? –
sussurrou ela com a voz rouca, realmente não acreditando no que ele estava
dizendo.
– Medo.
Seu queixo caiu. Era uma grande
confissão para um homem como Serge e ela viu a sinceridade em seus olhos.
Acreditava nele.
– Eu não queria ser como meu pai –
admitiu-o, cheio de tensão. – Não queria destruir a mulher que eu amava. Mas,
Deus me ajude Clementine, quando eu acordei e percebi que você havia ido
embora, eu sabia que tinha destruído tudo de qualquer maneira. Eu fui exatamente
igual ao meu pai.
Ele segurou suas mãos, com um gesto
estranhamente formal que a sacudiu para o chão.
– Você me diz que eu não enxergo você,
Clementine, mas eu enxergo. Porque somos parecidos de alguma maneira. Em você,
eu vejo uma menina que está sozinha há muito tempo. Vejo uma menina que se
arrisca e nem sempre acerta. – Ele foi a sua direção até estarem olhos nos
olhos. – Eu vejo uma garota que, quando fica com medo, foge. Eu não vou deixar
que você fuja de mim, Clementine. Vou persegui-la até os confins da terra, se
for necessário. Eu amo você. E sempre vou amar.
Ele respirou profundamente, como se
fizesse uma declaração.
– Sou um Marinov e é assim que amamos
nossas mulheres.
O coração de Clementine titubeou e
então começou a disparar com uma batida profunda. A esperança estava
florescendo dentro dela e doía demais, porque ela havia se decepcionado muitas
vezes no passado. As pessoas prometiam amor, mas o amor não era o bastante.
Carreiras e desejos pessoais entravam no caminho. Ela aprendeu aquilo com seus
pais.
Serge pareceu sentir sua reticência.
Ele soltou suas mãos e segurou ao redor
de sua cintura, ficando de repente tão perto que ele era o seu mundo.
– Minha vida tem sido um inferno,
Clementine, porque eu sabia que estava afastando você. No castelo, eu quis
retirar minhas palavras. No carro também. Tentei mostrar a você o que sentia no
hotel, mas não foi o suficiente. Quando eu acordei e vi que você havia ido
embora, sabia que não tinha sido o suficiente. Eu não lhe disse as palavras de que
você precisava porque para mim são muito difíceis de dizer. Sabia que uma vez
ditas, não haveria caminho de volta para você e para mim. Seria para sempre.
Você entende de verdade que
é para sempre, Clementine?
Um fluxo de emoção empurrou os pilares
rígidos que ela erigiu para proteger a si mesma e ela colocou a mão em seu
peito.
Serge olhou para sua mão, reconhecendo
o gesto familiar.
– Por favor, não diga isso da boca para
fora – disse ela.
Seus olhos se encontraram e ela ficou
impressionada com o olhar de esperança que viu. Ele não estava mais contendo
nada.
– Fique comigo, Clementine. Seja meu
amor. Seja minha.
Todo o ar parecia ter deixado seu
corpo. Seria tão fácil simplesmente desistir. Mas ela não era mais uma
garotinha, esperando que os outros lhe dessem o que precisava. Ela sabia que
precisava pedir.
– Eu quero primeiro saber como seria
ser sua – disse suavemente, com cada vez mais confiança. – Porque eu valorizo a
minha independência, Serge.
Ela lhe deu um pequeno sorriso e seus
olhos brilharam com uma luz tão forte que a oprimiu.
– Eu vou dizer o que quero – disse ele,
com seu sotaque engrossando as palavras. – Eu quero viver com você, trabalhar
ao seu lado, encher nossa casa com amigos e família e ter filhos com você. Eu
quero tudo. Mas não sei o quanto você quer, Clementine.
Ela engoliu.
– Você me disse uma vez que não queria
ter filhos.
– Clementine, eu disse um monte de
coisas que queria que você não tivesse ouvido. Quando meu pai morreu, ele
deixou para trás um caos. Eu jurei que nunca faria isso. Mas eu estava vivendo
uma vida incompleta até conhecer você. Eu quero viver plenamente, no momento, e
eu quero ter filhos com você e quero envelhecer com você.
– Eu arrisquei entrando naquela
limusine – disse ela, timidamente. – Não vejo por que não deveria me a arriscar
de novo agora.
– Esqueça a limusine. Você se deparou
com um homem que mal conhecia. – Os dedos de Serge a apertaram. – Mas, kisa,
nunca faça aquilo de novo. Tem ideia de como é perigoso?
Ela olhou para suas mãos unidas,
perguntando-se como aquilo tinha acontecido.
– Você nunca pareceu perigoso para mim.
Sempre me sinto segura com você, Serge.
– Quero que você se sinta segura. Quero
cuidar de você, Clementine. Não quero você em outro país. Passaria anos
pensando nisso.
– Então não pense Valentão.
Ele a beijou suavemente, com ternura,
com uma profundidade crescente. Ela enrolou os braços em volta do pescoço dele,
forjando a profunda conexão física que tiveram desde o início, simplesmente por
meio do contato de seus corpos. Mas agora ela sabia o que estava lá o tempo
todo, a ligação emocional que havia sido forjada entre eles, que ficou
evidenciada na noite anterior, que mostrava que ele a amava, porque ele não
tinha como dizer o que sentia.
Agora ela entendia. Serge nem sempre
tinha as palavras, mas ele lhe mostrou o tempo todo.
Ele olhou em seus olhos.
– Você quer ser minha esposa,
Clementine Chevalier?
Uma série de sentimentos passaram por
ela, mas o predominante era a certeza.
– Sim, claro que quero. Houve alguma
dúvida?
Serge começou a rir, seu peito vibrava
com o som.
– O que há de tão engraçado?
– Ah, minha evasiva Clementine, já
houve dúvida. Mas eu a tenho, finalmente.
– Você sempre me teve Serge. Só tinha
que pedir.
– Estou pedindo, moya
lyubov.
Meu amor.
O coração de Clementine compreendeu
aquele sentimento. Lágrimas de felicidade saltavam de seus olhos e Serge a
tomou em seus braços e a beijou.
– Vamos lá – disse ele, com profunda
satisfação. – Vamos encontrar um hotel. Quero ficar sozinho com você.
– Você está louca?
Um estranho desceu do carro, já fazendo
perguntas e balançando os braços.
Uma nuvem de poeira os encobria, quando
o estranho, que quase batera em uma árvore para atender ao pedido de ajuda,
surgiu à sua frente. Ele havia desviado o carro esporte no instante final antes
de se chocar contra a árvore.
– Desculpe-me – disse ela, afobada. –
Sou Kimberly Theron. Estou com muita pressa, mas fiquei sem gasolina. Você
poderia me ajudar?
– Kimberley Theron? – indagou o
estranho.
– Se ainda não ouviu falar sobre mim,
provavelmente já deve ter ouvido falar sobre minha família – disse ela,
enxergando-o melhor quando a poeira começou a baixar.
Só então que reparou naquele homem
alto, moreno e lindo. Na verdade, lindo era pouco para descrevê-lo. Ele era
deslumbrante, devia ter 30 e poucos anos. Os ombros largos estavam cobertos por
uma camiseta cinza sobre calças cargo. Os olhos eram escuros e o cabelo, curto.
– Kimberley Theron – repetiu ele,
analisando-a dos pés à cabeça, para depois prestar atenção no carro prata
conversível, com o estofamento coberto de poeira. – Bem, Srta. Theron será que
ninguém – cruzou os braços sobre o peito – nunca lhe disse que ficar em um
acostamento subindo e descendo as saias e revelando as próprias pernas poderia
causar um acidente?
– Sinceramente – pausou ela, por um
momento, e passou à mão na testa –, ninguém nunca mencionou nada semelhante. –
Olhou para a saia e depois ergueu os olhos tão azuis quanto duas safiras. –
Sinto muito mesmo, mas até que foi divertido. Na hora não pensei em nada que
pudesse ser mais eficiente para fazer você parar.
Ele não parecia estar se divertindo. Ao
contrário, blasfemou baixinho e olhou os arredores. O sol estava se pondo,
enquanto os dois se encontravam no meio de um campo verdejante de ambos os
lados da estrada. Não havia vestígio algum de civilização e nenhum sinal de
outro carro.
– Não posso ajudá-la porque meu carro é
a diesel, diferente do seu. Onde está indo?
– A Bunbury. Bem, creio que estávamos
indo na mesma direção. Será que eu poderia pegar uma carona?
O estranho analisou Kimberley Theron
novamente e concluiu que ela devia ter 20 e poucos anos, além de ser uma mulher
deslumbrante, de cabelos avermelhados, olhos azuis, com corpo esbelto e, claro,
pernas maravilhosas.
Kimberley tinha uma incontestável
vivacidade nata, mesmo que quase tivesse causado um acidente. Mas não era só
isso. Por trás daquele humor exuberante havia uma convicção de que não era uma
mera mortal. Kimberley era uma Theron! E como se não fosse suficiente, estava
ali, implorando para um completo estranho por uma carona, sem temer os riscos.
– Tudo bem, mas você vai deixar o carro
aqui? – perguntou ele, sorrindo.
– Não – respondeu ela, hesitante. –
Além da falta de gasolina, a bateria do meu celular descarregou. Será que você
poderia me emprestar o seu? Preciso pedir a alguém em minha casa que solicite o
serviço de reboque. Não se preocupe, pois vou pagar pela ligação e faço questão
de pagar pelo diesel usado para me levar até Bunbury.
– Não é preciso...
– Eu insisto – disse, interrompendo-o e
empinando o nariz, imperiosa. Ele deu de ombros e tirou o celular do bolso,
estendendo a ela. Momentos depois testemunhou uma conversa entre familiares.
– Alô, mamãe? Sou eu, Kim. Querida, por
favor…
Em seguida, ela deu a descrição exata
do local onde estavam, disse que pegaria uma carona até Bunbury e descreveu o
carro em que estaria e o número de sua placa. Quando terminou a ligação, com um
ar de culpa, devolveu o aparelho celular.
– Espero que não tenha se importado por
eu ter dado detalhes sobre você e seu carro, mas ela se preocupa muito.
Ele a olhou com certa ironia.
– E dessa maneira não fico parecendo
tão boba – continuou ela. – Minha mãe pegou meu carro emprestado e se esqueceu
de completar o tanque. Eu estava tão apressada que nem chequei.
– Por que você está com tanta pressa? –
perguntou ele.
– Posso responder no caminho?
Autor: Lucy Ellis