DECIMO PRIMEIRO CAPITULO
– Não podemos fazer isso. E a coletiva de imprensa? –
perguntou Clementine.
– Alex pode cuidar disso.
Clementine não conseguia tirar os olhos
dele. Por que ele estava fazendo aquilo?
– Serge, não tenho bagagem. Estou sem
nada.
– Você tem a mim, kisa.
Ele lhe lançou aquele preguiçoso
sorriso russo que dizia que ela não precisava de roupas. Não seria muito vista
em Paris.
Distraído por um momento, balançou a
cabeça. Ela não ia deixá-lo escapar tão fácil.
– Serge Marinov, fale comigo.
Ele fez um gesto de desdém, como se não
valesse a pena falar.
– Não é nada importante, Clementine.
Tudo o que você precisa saber é que não tenho a intenção de usá-la agora ou
nunca. Foi uma ideia ridícula e não ia funcionar. Feliz?
– Não... Sim. – Ela fez um barulho
frustrado. – Estou confusa. Há quanto tempo você vem planejando isso?
– Desde a noite passada. Eu ouvi você
no telefone com seu amigo e tenho a impressão de que está com saudades de casa, kisa.
– Não, eu... – Ela parou incapaz de começar
a frase que terminaria em porque eu amo você. Ela colocou a mão em seu
braço. – Serge, o que estamos fazendo? O que está acontecendo?
– Estou levando você para Paris,
Clementine, porque em dois dias é seu aniversário. Eu pensei que gostaria de
comemorar com uma viagem a um lugar especial... Para nós dois. Algo para se
lembrar.
Tudo estava tão terrível e agora, de
repente, não estava mais. Era mais do que maravilhoso.
A felicidade borbulhava dentro de
Clementine e ela tomou a única atitude que uma garota poderia fazer naquele
momento. Atirou-se sobre Serge, envolveu-se em torno dele e cantou:
– Obrigada, obrigada, obrigada.
E não tinha absolutamente nada a ver
com Paris e tudo a ver com aquele homem doce e generoso.
– Você não pode chorar Clementine, será
divertido.
Ela recuou para enquadrar o belo rosto
masculino com as mãos.
– Sim, muito divertido – concordou, com
os olhos molhados, mordendo o lábio.
Será que ele tinha a menor ideia do
quanto aquilo significava para ela? Provavelmente não.
– Você é tão emocional, Clementine –
brincou ele. – Onde está a minha menina feliz e divertida?
– Está aqui. – Jogou-se de volta em
seus braços. Ela se esforçaria para ser mais do que ele queria.
AQUELE ERA o
segundo hotel que ela entrava com Serge e era um estilo de vida que ela poderia
se acostumar.
Havia surpresas em todos os lugares: a
vista da Place de La Concorde, gavetas cheias de calcinhas, o armário dividido
em vestidos de noite e vestidos para o dia.
Como ele fez aquilo tudo?
– Agente de compras pessoal.
Ele deu de ombros, vendo-a mexer na
seda de um vestido de noite. Com a camisa aberta no colarinho, mangas
empurradas para cima, cabelos desgrenhados, descansando sobre a cama enorme,
parecia um rei ostentoso, examinando tudo o que possuía.
– Coloque-o, Clementine, para que eu
possa tirá-lo.
Ela sorriu para ele por cima do ombro.
Ele estava fora da cama e ela, contra
seu corpo. Tudo aconteceu tão rápido que a única coisa que ela pôde fazer foi
dizer:
– Não ouse estragar o meu vestido!
E depois suspirou.
Eles jantaram em um restaurante com
vista para o Sena, para as luzes de Notre Dame. Clementine estava usando seu
vestido.
No dia seguinte, vagaram pela cidade,
visitando alguns poucos locais turísticos com tranqüilidade. Até chegarem à
porta de uma joalheria exclusiva, quando Serge pegou sua mão e disse, quase
formalmente:
– Permita-me fazer isso pelo seu
aniversário, Clementine.
O que poderia dizer? Era uma sensação
totalmente nova. Tudo era muito caro. Sentiu-se incrivelmente especial. Ele a fez se sentir especial.
No final, ela escolheu um par de
brincos de diamante rosa.
Seu gosto foi elogiado pelos
funcionários.
Serge apenas disse:
– Feliz?
– Feliz.
Era uma palavra inadequada para
descrever como ela estava se sentindo, mas Serge parecia contente com ela.
O dia do seu aniversário amanheceu frio
e um pouco enevoado – muito incomum em junho –, mas foi se transformando em um
perfeito dia de verão.
Serge havia planejado um vôo de balão
sobre Loire e um almoço e um pernoite em um château privado,
que disse pertencer a amigos que estavam felizes por eles usarem. Clementine
parara de se beliscar, mas inclinar-se contra a grade de um terraço de pedra,
bebendo champanhe em um castelo do século XVI, perto de seu lindo amante russo,
não era algo que ela esqueceria tão depressa.
– Quero que seja memorável Clementine.
– Não consigo imaginar nada mais
perfeito. – Ela fez um som e fechou os olhos. – Ai, Deus, não acredito que
acabei de dizer isso. Foi tão clichê.
Serge observou, divertindo-se.
– Você está muito doce – respondeu ele.
– Péssimo! – Ela riu. – Acredite
Valentão, nenhuma mulher quer ser descrita como doce.
– Incrivelmente sexy, então. – Ele
arrancou a taça de sua mão e deslizou as mãos pelos seus quadris. – Hora de ir
para a cama, Clementine.
– Ainda é muito cedo, Serge – brincou
ela.
– Sim, mas teremos uma noite longa –
respondeu ele.
Ele era incrivelmente habilidoso, pensou Clementine na manhã seguinte, enquanto comia ovo e bebia
suco de laranja na varanda do quarto e olhava para a floresta escura que protegia
o castelo.
Tudo ia muito além do sexo, que era
excepcional. Ele era romântico em um sentido formal, como se estivesse
procurando maneiras de agradar saídas de um catálogo do tipo “O Que as Mulheres
Gostam”. Mas ela sabia o quão diferente poderia ser entre eles, quando ele
permitisse que tudo fluísse. Teria sido o seu melhor presente de aniversário,
ela teria renunciado a todo o resto: castelo, brincos, a perfeição do dia, por
apenas alguns momentos, quando ela se sentiria uma vez mais como uma parte dele.
– Serge... – disse Clementine em voz
alta.
Ele andou até se juntar a ela,
completamente vestido em trajes levemente formais, como se a volta para Paris
merecesse um pouco de estilo. Clementine, em seu robe e com os cabelos
despenteados, se sentiu um pouco nua ao lado dele, mas ela possuía um vestido
com camadas de chiffon para vestir hoje e estava usando os brincos que ganhou
de aniversário.
Era imaginação sua ou ele estava um
pouco distante naquela manhã?
– O que foi kisa?
– Podemos falar sobre a noite passada?
– Ela umedeceu os lábios. – Foi incrível, mas... Há algo que eu deveria estar
fazendo? Algo que você queira de mim?
– O que você acha que deveria estar
fazendo, Clementine?
– Eu... Eu não sei. Você apenas parecia
um pouco distante, às vezes, quando estávamos juntos, e eu quero falar sobre
isso.
Ele pegou um pedaço de torrada.
– Sim, bem, dushka,
algumas coisas podem ser conversadas. Se eu quisesse uma profissional na minha
cama, pagaria por uma.
Ela respirou.
– Eu não estava falando sobre a técnica,
eu estava falando sobre emoções. Nós não parecemos mais estar conectados da
mesma maneira.
Ele fez um gesto de impaciência e
voltou para o quarto.
– Você está fal falando em enigmas,
Clementine. Qual é o problema? Orgasmos infinitos não são suficientes?
– Não é isso.
Por que ele estava ficando com raiva?
Ela entendia que homens podiam ser
sensíveis com essas coisas. Então se levantou e foi até Serge, deslizou seus
braços ao redor de sua cintura, encostou o rosto contra as costas dele. Ele não
retribuiu, mas também não se encolheu.
– Sexo não é apenas um orgasmo, Serge.
Você sabe disso tão bem quanto eu.
Todo o seu corpo parecia crescer,
endurecer, se afastar de Clementine, mas ela segurou.
– Da, kisa. É entre nós é.
E foi assim que ela perdeu o chão.
– O quê? – Ela deu uma pequena risada
nervosa e deslizou os braços de sua cintura, enquanto ele literalmente se
afastou dela.
– Clementine – disse ele, suavemente,
mas não foi até ela. – Paris, abandonar o mundo por um tempo, isso tudo é muito
romântico. Mas sempre tivemos apenas um vínculo sexual. Você é uma garota
incrível e eu sou um homem de muita sorte, mas não vai, além disso.
– Você está terminando comigo? – As
palavras saíram em voz baixa, que ela dificilmente reconheceria como sendo sua.
– Você me trouxe a Paris para terminar comigo?
– Claro que não.
De repente, ele parecia desconfortável
e as informações a atravessaram como a lâmina de uma espada. Ele tinha ido para lá para romper com ela. Foi
apenas por algum motivo que mudou de ideia.
Mas ele não iria amá-la. Nunca.
– Você sabe que isso vai acabar. Tudo
acaba. – Ele encurtou a distância entre os dois e segurou as mãos dela. – Eu
não vou mentir e dizer que você não representa muito para mim, você representa.
Ela queria se enrolar no canto da sala
e morrer.
Mas seu orgulho não a deixaria fazer
aquilo.
– É bom saber, Valentão – disse ela,
suavemente.
Ela puxou as mãos e caminhou de volta
para a varanda. Ele a deixou ir, não a seguiu. Sabia que ela queria chorar.
– Clementine, não acabou.
Sua voz era rouca e uma parte dela se
apegou àquilo na espera que fosse uma prova de que ele não era tão inabalável
como fingia ser.
– Não – disse ela, forçando a alegria
em sua voz. Mas estava com a cara no chão. – Eu só não gosto de falar sobre
isso. Podemos mudar de assunto?
– Estaremos dirigindo de volta para
Paris em uma hora, mais ou menos. Não há pressa – disse ele lentamente. – Eu
pensei que poderíamos ir a Versailles. Acho que Maria Antonieta provavelmente
agrada a você, Clementine.
Ela fechou os olhos. Ele a conhecia tão
bem. Ainda que não bem o suficiente para saber que ela estava apaixonada por
ele. Se Serge soubesse, certamente não seria tão cruel.
Bem, ela mentiria para si mesma.
Clementine fingiria que poderia estar com um homem que nunca iria amá-la, se
tudo o que ele poderia oferecer era “um grande negócio”.
Significar “um grande negócio” para
alguém era bom. Não era?
Ela soube então o que tinha de fazer.
Reservar um vôo para casa. Era o fim.
SERGE ESTAVA com
raiva. Ele achava que nunca sentira tanta raiva em toda sua vida. Era uma raiva
fria e resolvida que poderia ficar em suas entranhas por dias, semanas, meses.
Ele manteve silêncio na viagem de volta a Paris. Ele tinha uma boa ideia do que
estava mantendo Clementine em silêncio. O que ele esperava? Que ela estivesse
tagarelando e cantando músicas bobas e trocando doces beijos com ele, como
antes? Ele havia perdido aquela garota para sempre. Em um ato de sabotagem
necessário.
Sim, sua raiva era do tipo resolvida e
não mudaria, mas ele podia senti-la crescendo exponencialmente enquanto
percorria as belas ruas de Paris no carro esporte. Clementine começou a falar
sobre como Paris era limpa em comparação a Londres.
– Gostaria de ficar um tempo sozinha –
disse em um tom de falso doce, enquanto o manobrista cuidava do carro. – Você
se importaria se eu fosse até a suíte sozinha?
Foi naquele momento que a raiva
estourou.
– Da – disse
ele. – Eu me importo.
Ela lhe lançou um olhar que poderia
incinerá-lo e saiu à sua frente pelo hotel. Ele não tinha pressa. A raiva estava
boa, justificada, e não tinha nada a ver com Clementine.
Ela fechou a porta do quarto e se jogou
na cama.
Ele arrombou a porta.
– Vá embora – disse ela, tirando as
pernas da cama.
– Eu durmo aqui também, kisa.
– Eu já disse para você sair. – Quando ele
não respondeu, ela perguntou: – Sabe qual é o seu problema, Serge?
– Vamos lá, conte-me.
– Você é um porco chauvinista. Vive em
outro século.
Ele lançou um olhar sombrio.
– Da, kisa. Você sabe, eu tinha um antepassado
do século XVI que manteve 15 esposas, um par para cada dia da semana. Ele não
teve problemas para mantê-las na linha, mas acho que ele não a conheceu.
Em algum lugar ali havia um elogio, ela pensou inquieta, mas se perdeu no conceito de 15 esposas e
no jeito que ele olhava para ela. De repente, Clementine não queria estar na
cama. Ela se sentiu inteiramente vulnerável a Serge.
Ela sabia que ele poderia dominá-la em
momentos, não com sua experiência, apesar de ser considerável, mas com sua
masculinidade pura e um sentimento tão vulnerável que ela não sabia como
poderia lidar.
Ela sabia que poderia dizer não e Serge
pararia. Mas o “não” não estava vindo e, de repente, a única coisa que
funcionaria era pele sobre pele.
Tudo o que Serge sabia quando se
aproximou dela na cama era que o desejo que sentia era mais forte que tudo que
já havia sentido antes. Ele era impelido a possuí-la e assim ele o faria.
Seu pai fora assim com sua mãe. Cenas e
mais cenas. Quebrando portas, gritos, gestos dramáticos. Para uma criança,
havia sido terrível. Para o homem adulto, ele escapava do legado de seu pai:
uma grande paixão causava destruição em um piscar de olhos.
E justo naquele momento ele
simplesmente não sabia mais o que aquilo significava.
Ele precisava do núcleo doce e quente
de seu corpo, sentir-se adentrando nela, o esquecimento de chegar ao ápice, de
não saber nada além do prazer com aquela mulher que o estava levando a
extremos.
No entanto, quando ele ficou sobre ela
e começou a lhe beijar, o beijo foi ficando mais lento, mais profundo,
prolongando aquele momento juntos. Serge não se sentia fora de controle, nem
frenético, e ele sabia contra o que estava lutando.
Não era Clementine. Nem o seu passado.
Era ele mesmo.
Do que ele era capaz e o medo que o
impedia.
O verdadeiro amor, profundo e
duradouro. Como se uma grande paixão em toda a sua glória arrebatadora fosse
tudo o que pudesse existir e ele pudesse renegá-la. Renegá-la por algo de outro
tipo: o tangível. Mas o outro lado daquela moeda controlada por aquele menino
hesitante era um desejo de ambos: amar exaltada, pura e verdadeiramente.
Os cílios de Clementine se agitaram,
toda a resistência foi embora. O rosa se espalhou por seu peito, seu rosto e
suas bochechas. Ele soltou suavemente o cabelo do prendedor e, em seguida,
sentiu seus dedos espalhados naquele cabelo sedoso e suas mãos acariciando
delicadamente seu pescoço, seus ombros, suas costas, como uma tentadora pena.
Ela o beijou como se estivesse se alimentando do beijo. Clem se agarrou a ele e
pronunciou seu nome.
Ele passeou para baixo em seu corpo e
lhe deu um prazer com a boca até que Clementine tremesse, e continuou até que
ela chegasse ao êxtase. Então ele se posicionou e a esticou, preenchendo-a,
balançando-se dentro dela lenta e suavemente até ela murmurar incoerências e
apertar as coxas ao seu redor. A sensação dos seios subindo e descendo entre
eles e as cócegas suaves da respiração em seu pescoço eram quase melhor do que
podia suportar.
– Tão bonita Clementine – sussurrou
ele, incapaz de não olhá-la. – A garota mais bonita que eu já vi.
Seus olhos transbordaram de lágrimas.
Ele gentilmente pressionou a boca contra cada pálpebra.
– Doce Clementine – murmurou contra sua
pele, com o aumento do ritmo de seus movimentos.
Ela levantou os quadris, levando-o
profundamente dentro de si, jogou a cabeça para trás e fez um som soluçando,
enquanto seus músculos internos se contraíam ao redor dele. Serge cedeu com um
gemido profundamente satisfeito, sentindo um prazer pulsando com força através
de seu corpo. Porém não era o suficiente. Mais duas vezes, ele a teve conforme
a noite avançava, absorvendo o calor do seu corpo, o cheiro de sua pele, o
choque de seu corpo dando lugar às suaves contrações dela. Até estar mole e
quieta, respirando suavemente ao seu lado.
Clementine soltou uma respiração irregular
e se perguntou por que, após a experiência sexual mais intensa de sua vida, ela
não poderia ter fôlego suficiente em seus pulmões. Ela inspirou o mais
profundamente que pôde e virou a cabeça, devorou seu olhar, fechou os olhos,
com o peito se esforçando, enquanto prendia a respiração e um brilho de suor
levemente cobrindo sua pele. Serge fora tão generoso, tão apaixonado, tão tudo
que ela queria. Só que ele não a amava e não iria amá-la.
Ela esteve errada o tempo todo. Ele
nunca a tinha visto de maneira diferente das mulheres que teve antes e,
provavelmente, teria depois dela. Clementine não confundiria sua ternura, sua
gentileza no ato do sexo, por sentimentos que ele não tinha por ela.
Ele rolou e, de repente, aqueles olhos
verdes de dragão estavam enredados nos dela. Sentiu um desespero. Daqui a
pouco, ela estaria se perdendo novamente, desejando que aquilo fosse real. Mas
não era. Lágrimas impossíveis de serem contidas encheram seus olhos,
transbordaram, derramaram-se pelo seu rosto.
Serge reclamou e a puxou contra ele.
Seus braços estavam apertados em volta dela, mas em vez de conforto, ela apenas
se lembrava do que havia perdido.
– Não chore doce Clementine, não chore
– murmurou ele.
Mas aquelas palavras não significavam
nada, não é? Nada mudaria. Um dia, mais cedo ou mais tarde, tudo estaria
acabado e seu coração, despedaçado.
– Diga-me, o que está errado?
– Eu não quero que acabe – chorou ela,
incapaz de esconder seus verdadeiros sentimentos.
Seu sangue de Tártaro transformou sua
expressão em selvagem e feroz, enquanto ele segurava seu rosto entre as mãos.
– Não vai acabar. Ouça-me, Clementine,
nada vai acabar.
Por um momento interminável, Clementine
se apegou ao círculo brilhante de sua certeza. As palavras “Mas você não me ama” morreram em seus lábios,
porque as palavras seguintes seriam “E eu amo
você... Tão completamente”. Aquilo destruiria o momento.
Ela não poderia fazer aquilo. Não
poderia lhe dizer como se sentia quando não havia nenhum sentimento nele para
uma resposta à altura. Em vez disso, ela se deixou encaixar em seus braços e
ouviu quando ele começou a niná-la em russo, sentindo os círculos imaginários
criados pelas mãos dele em suas costas nuas. Aos poucos, sua crise de choro
cessou e ela ficou imóvel e dilacerada.
Permaneceu lá por um longo tempo, até
que teve certeza de que ele estava dormindo pela profundidade de sua
respiração. Não eram nem 21h, porém ela sentia que era muito mais tarde.
Parecia que o dia nunca chegaria ao fim.
Clementine enfrentou aquilo quando
ainda era uma menina de 17 anos de idade, sabendo que a única maneira de não
deixar que as emoções a destruíssem seria partir por conta própria para o mundo
e construir uma vida nova.
Naquele momento, ela era uma mulher de
26 anos de idade e tudo deveria ser mais fácil. Só que não era. A dor a
despedaçava como as garras de um animal selvagem e ela não poderia impedir. E
quanto mais tempo ficava ali na cama, mais difícil seria se levantar e se
forçar a ir embora.
Livrando-se de seu corpo o mais
cuidadosamente possível, ela silenciosamente se vestiu, fez a mala com suas
roupas velhas e se sentou para escrever um bilhete para Serge no papel timbrado
do hotel.
Ela não sabia o que dizer e, no final,
simplesmente escreveu seu nome – Clementine. Um nome a mais para sua coleção.
Ela colocou o bilhete na mesa de cabeceira, prendeu-o com a caixa de jóias
vermelhas e olhou pela última vez o modo como dormia. Seu belo rosto masculino
parecia tão calmo, como se estivesse se libertado de algo que o havia machucado
e tudo o que ela visse, por fim, fosse uma espécie de alívio.
Um dia eu me sentirei assim também, disse a si mesma.
– Eu vou superar
você, Serge Marinov – sussurrou ela.
Mas a força de suas emoções ameaçou
dominá-la, algo lhe dizia que ela jamais conseguiria. Não completamente.
Ela precisava se proteger.
Chegara a hora de ir embora.
AUTOR: LUCY
ELLIS
ESCRITO: FARUK
ISSUFO