DECIMO CAPITULO
Levou dez minutos para limpar a casa. Alex
demorou mais tempo.
– O que você está fazendo com essa
menina, Serge?
– De novo?
– Seu olhar quando você apareceu na
cozinha foi impagável.
– Se você pudesse traduzir Aleksander, talvez
fizesse mais sentido – disse Serge, secamente.
– Isso mesmo, de bobo. Eu vi você na
noite passada. Você se preocupa com ela. Não é mais uma daquelas. É uma mulher
mais experiente. Eu realmente poderia empregá-la, Seriosha.
O que você faria?
– Demitiria você.
– Touché. Você sabe, Mick está certo. Você vai
com ela em alguns eventos de caridade e como será a divulgação da revista? “Em
casa com Serge Marinov e a adorável Clementine.”
– Você ficou maluco ou está querendo
ver estrelas – ameaçou Serge, cruzando os braços.
– Não sou eu que estou dividindo a
minha vida com uma mulher linda e de personalidade forte. – Alex riu e seguiu
para seu carro. – Ela fez petiscos, cara – gritou ele. – Petiscos!
Serge voltou. A porta do quarto estava
entreaberta e ele bateu.
– Clementine?
Ele esperava encontrá-la na cama
chorando, mas o quarto estava vazio. A cama estava arrumada.
Onde diabos ela estava?
Finalmente, ele a encontrou no jardim
do terraço. Ela estava ajoelhada no chão, arrancando o mato.
– Primeiro você vai ao mercado, agora
está fazendo jardinagem – comentou-o. – Precisa parar com o trabalho doméstico,
kisa.
– Sim, bem, eu não tenho mais nada para
fazer.
Ele se agachou ao lado dela.
– Ontem à noite, Clementine...
– Sim, eu entendi Valentão – interrompeu-a.
– Eu ultrapassei o limite. Não vai acontecer de novo.
Serge ficou em silêncio por um momento.
– Eu não queria que você fosse ao
evento na noite passada porque é violento – disse ele com deliberação.
Ela queria dizer “eu não estava falando sobre a luta. Eu estava falando de
depois”.
– Você me colocou em um lugar
privilegiado – protestou ela.
– Porque você estava lá e eu não a
queria fora da minha vista. Fiz um julgamento ruim.
– Você não queria me perder de vista? –
repetiu ela, tentando entender.
– É minha responsabilidade cuidar de
você.
Ela não era responsabilidade de
ninguém. Ela cuidava de si mesma.
Ele não a protegeria. Ele não a amaria.
Era apenas um amante. Seu amante atual.
– Você não é meu pai, Serge. Você é
meu... – Ela parou, sem saber o que dizer. Sentia-se mais constrangida que
antes.
– Seu pai vive em Genebra – interpôs
Serge suavemente, deixando-a saber, que ela possuía razão para hesitar. – Você
já o viu?
Ela evitava falar sobre os pais, mas de
repente seu pai parecia um tópico muito mais seguro do que se Serge era seu
namorado.
– Há muitos anos. Tivemos um
desentendimento quando eu tinha 15 anos. Eu era um pouco arredia na época.
– Ao contrário de agora, que você é uma
gatinha.
Clementine sorriu.
– Por que me chama de gatinha o tempo
todo?
– Porque você é bonita, brincalhona e
arranha. E sua mãe?
– Ela apresenta um programa matinal de
TV em Melbourne. Ela nunca estava em casa e quando estava, brigávamos. Mamãe e
papai eram adolescentes quando nasci. Por isso se casaram. Nenhum dos dois
tinha muito interesse em um bebê. Então cresci cercada por babás e brigas até
atingir os 10 anos, quando eles finalmente se separaram. Aí a diversão começou.
Duas vezes por ano para Genebra.
– Não é divertido?
– Você está brincando? Um vôo de 24 horas,
sozinha, e eu lá por uma semana, até alguma namorada do meu pai me mandar de
volta para Melbourne. Ambos, tanto meu pai quanto minha mãe, são obcecados por
eles mesmos, ou deveria dizer obcecados por suas carreiras? Eu decidi há muito
tempo que quando tivesse um bebê, ficaria em casa com ele.
– Você quer ter filhos?
– Um dia. Você não?
Ela perguntou sem pensar nas
implicações.
– Não. – Ele tirou o garfo de
jardinagem de sua mão. – Mas você está certa, Clementine. As crianças precisam
de um lar estável e pais amorosos. Sinto muito que você não tenha tido isso.
Ninguém nunca havia dito aquilo a ela
antes.
– Agora eu entendo.
– O que? – perguntou ela, desconfiada.
– O apego por sua independência?
Clementine fechou os olhos, sentindo-se
perder o domínio.
– Vamos. – Ele se levantou,
oferecendo-lhe uma das mãos, e ela aceitou, hesitante. – Há um lugar que quero
levar você – disse ele.
– Posso ir assim?
– Tudo bem. Eu gosto de você um pouco
amarrotada. – Ele colocou um braço ao redor dela. – Ontem à noite eu queria
dizer uma coisa.
Clementine engoliu em seco e tentou
parecer casual.
– É?
– Você me perguntou como eu me sentia.
É uma sensação boa, Clementine. Estar com você me faz bem.
ELE A levou
ao centro de caridade. Um edifício no Brooklin que abrigava crianças carentes.
– Há um em cada cidade em que temos
negócios – explicou ele, conforme caminhavam pelo ginásio. – Aqui e na Europa.
– Isso seria uma grande publicidade,
Serge.
– Sim, Mick diz a mesma coisa.
– Mick Forster? O cara que conheci na
academia?
– Da, ele foi o primeiro treinador a trabalhar
comigo quando cheguei aos Estados Unidos. Eu não seria quem sou sem ele.
Serge estava falando tão livremente que
ela decidiu aproveitar o momento.
– Então, qual é a ideia de Mick?
– Bem, primeiro que eu preciso parar de
receber mulheres tirando seus vestidos em festas privadas.
Clementine lhe deu uma cotovelada nas
costelas.
– Isso não é verdade! É verdade?
Seu entusiasmo evaporou e ele percebeu
que ela se afastou. Depois, mais incerta, disse:
– O que são festas privadas?
– O meu ramo de negócios, kisa,
envolve muito dinheiro, jogos de azar, drogas. Embora tenhamos feito o nosso
melhor para limpá-lo. E há sempre mulheres. Eu sou saudável, sempre usei
preservativos. Mas não sou como os caras que você está acostumada. Eu vi e fiz
muita coisa.
Clementine sabia que era bobagem ficar
chocada.
Serge observava as emoções pelo rosto
expressivo de Clementine. Ele não deveria ter dito aquilo. Ele a tinha
chateado.
Ela deu de ombros, mas ele sabia que
estava insegura.
– Ainda não me disse o que são as
festas privadas.
– Não importa. Acabaram.
Uma onda de calor o varreu, conforme
ele olhava em seus olhos ansiosos, e experimentou uma vontade esmagadora de
protegê-la de seu passado.
– Então, quais são as outras idéias de
Mick?
– Você seria o sonho de Mick se
tornando realidade, Clementine.
– Mick é casado?
– Claro que não. Ele não seria tão bom
em seu trabalho se fosse.
Clementine se preocupou.
– Então ele não aprova o seu estilo de
vida porque reflete na empresa?
– Estilo de vida? Não estamos na cama
todas as noites antes de 22h?
Clementine corou e balançou a cabeça.
– Talvez... Você precise de uma mulher
que não tire o vestido – disse Clementine, lentamente.
Serge envolveu os braços nela.
– Que tal tirar a calça e a camiseta? E
posso dizer que este é um visual que cai muito bem em você, Clementine?
Ela revirou os olhos e Serge
experimentou uma ascensão no humor.
– Então, você quer me usar? – disse,
aventurando e, em seguida, olhando para ele.
– Seria deselegante perguntar,
Clementine.
Ele a estava provocando gentilmente,
mas Clementine de repente foi muito clara sobre o que queria. Era uma forma de
fazer o relacionamento ir à direção certa. Na noite anterior, ele havia
revelado que tinha fortes sentimentos, mas estava claramente lutando contra.
– Eu acho que é uma ideia perigosa
juntar a vida pessoal com os negócios – disse ela, lentamente. – Mas eu acho
que Mick tem razão. Se você tem um perfil midiático... Serge, você tem um
perfil midiático?
Sua boca se contraiu.
– Muito básico.
– Mas o suficiente para ser fotografado
saindo de festas com mulheres inadequadas?
Ela tentou ser gentil, mas não
conseguiu.
Na verdade, ele parecia um pouco
envergonhado.
– Talvez fosse bom para você ser visto
fazendo algumas coisas convencionais. Com uma mulher.
– Mas onde poderíamos encontrar uma
mulher assim? Este modelo de virtude, boas maneiras e gostosura?
Ele estava brincando com ela. Aquilo
era bom. Significava que não estava se afastando.
– Não sei Valentão.
– Você está determinada a se envolver,
não é?
Mas havia algo em sua expressão, algo
que a convidava.
– Eu quero ajudar – disse ela, de
repente sentindo-se um pouco tímida. – Eu faço isso para viver, Valentão, deixe
que eu cuido.
Ele colocou um braço ao redor dela, mas
ela notou certa cautela em seus olhos.
– Vamos ver.
– ROSTO PÚBLICO da
Marinov Corporation – disse Clementine, sentindo-se ansiosa. – Vai levar algum
tempo para me acostumar – confessou ela, olhando para Alex. – Eu já fiz esse
tipo de coisa, só nunca fui realmente o produto.
Alex sorriu para ela encantadoramente.
– Você vai se sair bem. Relaxe.
Mick Forster entrou na cozinha antes de
Serge, que claramente não estava relaxado.
Serge os apresentou e Mick se sentou
cautelosamente.
– Ouvi dizer que você causou uma boa
impressão em Alex – disse Mick sem rodeios, estreitando seu olhar para os olhos
azuis dela. – Você acha que consegue na frente de oito políticos e uma equipe
de filmagem?
– Bem, Mick, não sei – respondeu
Clementine, olhando para Serge. – Se eu me lembrar de tirar o chiclete da boca,
será um bom começo.
Ele não sorriu. Não estava sorrindo
desde que ela havia concordado com aquilo. Ele estava com dúvidas? Ela sabia
que ela
estava.
Serge parecia tão intimidante que
Clementine recuou. Mick e Alex se olharam cautelosamente.
– Ela sabe o que fazer, eu convoco a
coletiva de imprensa e depois vamos embora. Sem bate-papo. Ela não vai falar
com a imprensa.
Clementine sabia o que estava fazendo.
Era uma oportunidade de ajudá-lo.
– Quero ter certeza de que Clementine
sabe seu papel – disse Alex, lentamente. – Você estará respondendo a perguntas,
Serge, mas ela estará enfrentando a imprensa.
– Nyet. Sem paparazzi. Vamos por trás. Apenas a
imprensa oficial – falou Serge, calmamente, mas, com efeito.
– Ouçam, estou ciente de que serei um
acessório amanhã – interrompeu Clementine, forçando a voz para ser alegre. – Eu
sei o que eu faço, ficarei quieta.
Ninguém riu. Ninguém sequer se
contraiu.
– Não, nós queremos que você fale – disse Mick,
finalmente. – Se não falar, parecerá mais uma daquelas cabeças de vento...
A voz dele caiu em um tenso e
desconfortável silêncio.
Mais uma daquelas cabeças de vento. Clementine não sabia para onde olhar.
Desde que fez a proposta a Serge,
Clementine se perguntou se estava fora de si. Agora Mick mostrou que ela estivera
muito cega ou deslumbrada com a noção de tornar a relação deles pública.
Clementine de repente se sentiu
terrivelmente exposta. Ela respirou fundo. Não era burra. Poderia lidar com
aquilo.
Cuidado com o que você deseja Clem,
disse a si mesma no chuveiro. Ela mostraria suas habilidades, mas não da
maneira que queria.
Ela faria o que prometeu e nunca mais
de novo. No desespero por seu amor, esquecera a própria lição de vida de seus
pais.
“Venha viver comigo e ser minha
companheira, a fim de neutralizar a especulação da mídia sobre o meu até agora
estilo de vida de playboy” deixava um gosto amargo na boca.
Ela queria um compromisso real com
Serge.
Estava começando a se sentir como se
tivesse ido correndo atrás dele. Não era uma boa sensação.
Ela estava saindo do banho quando ouviu
seu telefone tocando. Com o coração pesado, atendeu e deu um suspiro sincero.
– Luke!
Serge ouviu sua voz e continuou a se
vestir no outro quarto, tentando executar.
Ela não pareceu tão animada durante o
dia e isso o incomodava. Aconteceu tudo de uma vez: a conferência de imprensa,
os conselhos de Mick que ele normalmente atenderia para seu benefício e a
oferta de Clementine, a resposta às orações de Mick. Ela estava tão disposta a ajudar.
Usar Clementine daquela maneira tornaria
mais brutal do que precisava ser quando rompessem.
– Não, eu não sei – disse ela,
diminuindo o tom de voz de repente. – Não, eu não aluguei nada. Talvez eu
volte. Não sei.
Seu batimento cardíaco desacelerou.
– Não é bem o que eu esperava.
Ela estava pensando em voltar para
Londres?
Cada músculo de seu corpo ficou em
estado de alerta.
Clementine longe.
A casa vazia.
Ele ficou ali, com a cabeça inclinada,
respirando de maneira constante e profundamente. Ele disse a si mesmo que era o
melhor.
NORMALMENTE, UM bate-papo
com Luke melhorava o astral, mas naquela noite Clementine se sentiu pior do que
nunca.
Mesmo agora, a intimidade parecia
forçada e girava em torno dos negócios. Em vez de fazer ela se sentir mais
segura, ela se sentia perdida.
Pior, a intimidade emocional da noite
da luta não se repetiu. Serge foi atencioso como sempre, mas ela sentiu sua
restrição como um tapa na cara.
Ela inalou profundamente, conforme
avançou na cozinha. Cheiro de comida. Serge tinha apenas uma equipe e eles
nunca estavam no fim de semana à noite, então ela sabia que ele estava cozinhando.
Incapaz de acreditar, ela permaneceu à
porta, apenas assistindo. Ele parecia sensacional.
– Você está cozinhando.
– Eu também posso arrumar camas, varrer
e limpar banheiros. Treinamento do exército.
– Estou impressionada.
– Eu pensei que pudéssemos comer e
assistir a um filme antigo.
Clementine disse para seu coração não
saltar, mas ele não obedeceu.
– Antes do dia D?
– Você não precisa fazer isso,
Clementine.
Ele estava de repente muito sério e seu
coração batia em resposta.
– Não, eu quero Serge. Eu quero fazer
isso por nós.
A expressão de Serge não mudou. Ele
apenas lhe entregou uma taça de vinho tinto.
– A nós – disse ele, tinindo seu copo
com o dela, mas seus olhos permaneceram frios e quase vigilantes.
EMBORA ELA tivesse
um vestido escolhido para a ocasião, no último momento, parecia tudo errado.
Clementine deveria ser boa naquilo. Ela
usava aquela habilidade o tempo todo em seu trabalho, fazendo as pessoas verem
o que ela queria que vissem.
Serge colocou a cabeça na porta.
– Você tem 15 minutos, Clementine.
– Sim, tudo bem – disse ela, distraída,
não querendo arruinar o momento de hoje com um atraso. Serge devia estar
nervoso. Enfrentaria uma imprensa hostil. Ele hesitou e, de repente, seu braço
disparou, e ele puxou o vestido verde com o cabide.
– Vista isto.
Ela o usou em seu primeiro encontro e
se perguntou se ele se lembrava. Provavelmente não.
– Obrigado. Estarei com você em dez
minutos.
Ela propositadamente lhe virou as
costas e colocou de volta o vestido de cetim verde em seu lugar, pegando outro
vestido com muito mais material.
Serge consultou o relógio. Ele podia
ouvir Clementine correndo, os sons das gavetas fechando, as portas rangendo,
alguns palavrões. O barulho que ela estava fazendo mexeu com ele. Vou
sentir falta disso.
Mas ela estava descendo lentamente as
escadas, como se os últimos 15 frenéticos minutos não tivessem acontecido,
trajando um vestido amarelo de gola alta que deslizava por seus seios e quadris
e caía até os joelhos. Sem a cintura apertada, suas curvas extravagantes
pareciam muito mais discretas. Ela estava cumprindo seu papel.
Ela olhou para cima e usou as duas mãos
para alinhar imaginariamente o paletó. Em seguida, sorriu para ele:
– Acho que estamos prontos, Valentão.
Ela era tão linda que lhe tirava o
fôlego.
Mas havia outras mulheres bonitas no
mundo. Outras mulheres com cabelo cor de caramelo, pernas longas e olhos
cinzentos. Mas não tão doces.
– Alguma coisa que eu precise saber
Serge, antes de irmos? Algum conselho?
– Só que você está linda.
– Estou? – disse ela, olhando para ele,
seu rosto aberto e subterrâneo. Mas não havia nada em seus olhos. – Estou
bonita? Porque eu não estou, na verdade. Acho que é apenas mais maquiagem e
confiança.
Ele curvou a mão ao redor da parte de
trás da sua cabeça e a beijou. Sua boca vibrou surpresa, cautelosa, e ela
cedeu.
Clementine o fez sentir-se como o único
homem que tivesse feito aquilo com ela. Era uma fantasia, mas ele se
permitiria.
E era um lembrete de por que ele devia deixá-la ir, porque o que havia entre
eles era muito, muito poderoso. Ameaçava acabar com muito do que ele tinha
construído.
– Nenhuma outra mulher chega perto –
disse ele, suavemente, contra sua boca. – Clementine, você está com seu
passaporte?
– Perdão?
– Nós não vamos para a cidade. Kisa,
eu vou levar você para Paris.
AUTOR: LUCY
ELLIS
ESCRITO: FARUK
ISSUFO