OITAVO CAPITULO
A viagem de volta para a cidade deu a Clementine
a oportunidade de entender tudo o que havia acontecido recentemente. Serge
estava quieto. Gostava de dirigir.
Ele olhou para Clementine.
– Ponha a mão no meu bolso.
– Serge!
– Vá em frente. Eu não vou morder.
Revirando os olhos, mas curiosa, ela
alcançou o bolso do casaco e encontrou uma pequena caixa. Ela abriu.
– Meu medalhão!
– Mandei consertar.
Ela não o tinha visto desde que o
guardara em uma gaveta ao lado da cama. Serge claramente viu.
Mergulhando a cabeça para colocá-lo no
pescoço, ela experimentou uma onda de afeto e se sentia estranha por expressar.
Não agora que tinha uma visão mais clara de seu relacionamento.
– Não me diga que é uma lembrança de um
antigo namorado – disse ele.
– Comprei para mim quando fiz 18 anos.
– Levantou seu pulso. – Comprei este relógio quando assinei com Verado.
Serge franziu a testa.
– Você mesma comprou?
– Por que não? – disse ela
defensivamente. – Alguém uma vez me disse que se você não tem as pessoas em sua
vida para marcar ocasiões importantes, precisa fazer isso por si mesmo. – Ela
sorriu. – O que para mim é apenas uma desculpa para fazer compras.
Ninguém para marcar ocasiões importantes. Não deveria incomodá-lo, mas incomodava.
– Clementine, uma mulher bonita não
deve comprar jóias para si mesma.
Ela lhe deu um sorriso brilhante de
desprezo.
– Homens estão sempre me comprando
presentes, Serge. Eu só escolho não aceitá-los.
Seus dedos ganharam destaque no
volante. Ele não queria ouvir sobre outros homens. Mas entendeu a mensagem.
Alto e claro. Ela estava pensando sobre o colar de diamantes. Desejou nunca ter
lhe dado a maldita coisa. Dado? Ele deixou para ela encontrar com um bilhete. Obrigado
por seus serviços. Ele não costumava se arrepender, mas esse era um
incidente que desejava que pudesse voltar e mudar.
– Você não falou sobre sua família –
disse ele, limpando a garganta. – Suponho que tenha. Pais?
Clementine olhou para ele bruscamente.
Ele lhe deu um sorriso tranqüilizador e sua defesa vacilou. Ela assentiu
lentamente.
– Infância feliz? – disse ele,
pressionando-a, incerto sobre onde estava indo com isso, mas se sentindo um
pouco como um náufrago se agarrando em toras.
– Na verdade, não. – De repente, ela
ficou fascinada por suas mãos, examinando as unhas enquanto falava. – Eles se
divorciaram quando eu tinha cinco anos.
– Criada pela mãe?
– Era jogada entre eles... Mãe em
Melbourne, pai em Genebra. Ele é correspondente de guerra. Sempre atrás de
algo, seja um conflito, uma história, uma mulher. – Ela encolheu os ombros,
lidando com a mistura de raiva e tristeza que sempre sentia quando falava sobre
os pais. – Mamãe se casou novamente. Tenho três irmãs, mas não as conheço
direito. Saí de casa aos 17 e não voltei mais.
Serge franziu a testa.
– Mas aos 17 anos é cedo para uma
menina estar por conta própria.
– É, mas eu consegui.
Explicava muita coisa. Sua
independência, mas também a vulnerabilidade que o preocupava.
– Então você não sente falta de sua
família? – Não sabia por que estava insistindo, só achava que precisava saber
mais sobre esse lado dela e, até agora, ela nunca falara sobre isso.
– Não há muito para sentir falta –
respondeu, olhando para baixo. – Ainda estava na escola quando saí de casa.
Acabei fazendo uma série de trabalhos braçais durante o dia, e estudava à
noite. Não achava que chegaria a lugar algum. Tomei a decisão de fazer o que
muitos da minha idade estavam fazendo e fui para Londres. Não me arrependo.
Sempre senti como se houvesse oportunidades para mim lá fora, no mundo, e
queria apreciá-las.
Clementine de repente desejou que a
conversa nunca tivesse acontecido. Falar sobre seus pais sempre despertava
lembranças dolorosas. Uma infância na qual nada era certo, todo o poder nas
mãos de dois adultos que pareciam ser nada mais do que crianças grandes,
sozinha e sem proteção entre eles, havia lhe incutido uma forte necessidade de
proteger a si mesma.
Aos 25 ela sabia que o passado começava
a cobrar seu preço. Profissionalmente ela estava bem, mas sua vida pessoal
nunca tinha realmente decolado e agora tinha morrido na praia.
Até este homem.
Não enxergue demais, Clementine.
Não, ela não o faria. Mas ele queria
ter certeza de que ela poderia ser a garota que ele precisava. A menina sem
compromissos. Mas poderia ela
ser aquela garota ou o preço era muito alto?
Era hora de se proteger novamente.
Ela agarrou seus joelhos.
– Serge, posso ser franca?
Ele realmente parecia surpreso e ela
quase sorriu. Havia palavras piores que você poderia dizer para um homem?
Sempre antecediam algo que preferiam não saber.
Ela sorriu levemente. Sorte
sua, Serge, você vai conseguir exatamente o que quer ouvir.
– Não sou ingênua – continuou. – Sei
que você vive para o seu trabalho. Relacionamentos estão longe de ser
prioridade. Também sei que quer me manter longe dessa parte de sua vida.
Entendo que tenha escolhido me levar a um hotel em vez de me levar à sua casa.
Ele parecia querer dizer algo, mas ela
continuou rápido.
– Você está me dizendo para não levar a
sério nada disso. Eu entendo. Entendo que tudo o que está oferecendo é uma
oportunidade, não uma relação de longo prazo. Está tudo bem. É o que eu quero
também.
Mentirosa.
Serge ficou quieto.
Devia ser o seu momento de alívio. Em
vez disso, o atingiu como um soco.
– Uma oportunidade? – disse ele lentamente.
Pela primeira vez, em mais de uma
semana, lembrou-se da garota que ele conheceu em São Petersburgo. A garota que
imaginara ter uma fila de caras para escolher. A partir de sua primeira noite
juntos o pensamento havia se tornado risível. Dera a impressão de ser arrastada
por seus sentimentos.
Até a pouco, ele teria desconsiderado
sua reivindicação. No entanto, agora, conhecer um pouco sobre o passado dela
lhe dava outra perspectiva. Ela era claramente mais durona do que parecia. Era
uma mulher que sobreviveu sozinha desde a adolescência. Ela não precisava de
sua proteção. Não precisava de mimos. Ela estava dizendo a Serge exatamente o
que ele deveria comemorar por ouvir.
– Assim, encontrar um emprego faz
sentido, não acha?
Ele olhou para Clementine. Ela lançou
um sorriso brilhante.
Nyet, nada fazia sentido.
NO DIA seguinte,
Clementine passou seu tempo sozinha pesquisando o nome de várias marcas de
moda. Seu currículo agora tinha o nome de Verado como atrativo. Todo seu
trabalho duro em São Petersburgo valera à pena. A grife de moda Annelli estava
lançando uma campanha de Natal para marcar seus jeans com uma jovem atriz
emergente. Se ela estivesse interessada em se juntar à sua equipe, eles tinham
um emprego para ela.
O trabalho era em Nova York. Não
haveria problema com seu visto. Estava tudo certo. No entanto, ela hesitou em
aceitar o trabalho. Pensou sobre o que tudo isso significava.
Ela queria muito mais de Serge do que
suspeitava que ele pretendia lhe dar. Você não levava uma garota para um hotel
quando tinha uma casa perfeitamente boa na cidade. Ele nunca quis que isso
fosse nada mais do que uma aventura sem compromisso e nos Hamptons. Desesperada
para manter a dignidade, ela descartou a profundidade de seus sentimentos e lhe
deu seu passe livre para fora da prisão.
Porque ela possuía sentimentos por
Serge e não os negaria a si mesma enquanto os escondia dele. E quanto mais
tempo estivessem juntos, mais profundos esses sentimentos ficariam.
Ela desesperadamente não queria ser sua
diversão apenas. Sabia da impressão que ela lhe dera em São Petersburgo.
Clementine esperava que ele a conhecesse melhor agora. Contudo, uma semana de
amor inebriante, não muito mais, e continuava suspeitando que isso sempre seria
um caso sexual para Serge, e seu estilo de vida de luxo só confirmava. Por que
ele iria querer mais quando sua aparência e dinheiro poderiam trazer belas
mulheres de todo o mundo?
Ele a convidara para sua casa agora,
cutucou sua voz interior. Era algo.
Mas não era um convite para entrar em
sua vida, que era claramente pelos negócios.
Por isso, ela hesitou em trabalhar na
Annelli. Tudo o que Serge disse sobre Clementine não trabalhar para ele apenas
deixara a ideia mais atraente e mais ela pensava sobre isso. Ficar com Serge
significaria muitas visitas de fim de noite em academias e muitas viagens. Para
estar em sua vida ela precisava estar em seus negócios. Poderia provar para ele
que era muito mais do que um corpo quente em sua cama. Talvez fosse um caminho
para eles.
Mas a questão fundamental é a
necessidade de manter sua independência, o que significava encontrar um
apartamento próprio. Estar segura significava ser independente.
Ela saltou do táxi na East 64th e
correu em direção à linha de casas dos anos 1920.
A casa de Serge foi uma surpresa adorável.
Era um lar de fato, com 11 quartos, mais de cinco andares. Ridiculamente grande
para um único homem, mas no que Clementine estava interessada era no quão
despretensiosa parecia. Completamente restaurada, tinha uma simplicidade à moda
antiga que dizia muito sobre o homem com quem estava vivendo e era
estranhamente reconfortante.
Ela ligou o laptop no escritório de
Serge e entrou em seu site. Sabia que ele estaria em uma luta na noite de
sexta-feira, o que lhe deu uma oportunidade de vê-lo em ação.
Ele não precisava saber e aquilo iria
ajudá-la a construir uma noção de como abordá-lo sobre um trabalho. Ela
reservou um bilhete on-line e fechou o laptop com uma sensação desconfortável
de que havia acabado de passar dos limites com Serge. Se ele descobrisse, não
ficaria feliz.
SERGE CONSULTOU o
relógio e, em seguida, olhou para as telas na sala de controle. O estádio
estava lotado e o principal evento logo começaria. Ele poderia, enfim, voltar
para a cidade e jantar com Clementine.
Ele estava gostando de seu pequeno
acordo. Nunca tinha morado com uma mulher antes.
Embora Clementine fosse rápida em
lembrá-lo que ela estava efetivamente de férias e que, uma vez que seu visto de
trabalho expirasse, as coisas naturalmente se alterariam. Eles não estavam
realmente vivendo juntos. Ela disse isso para ele. Nós não
estamos vivendo juntos, Serge.
Como se ele precisasse saber seu lugar.
Como se ela precisasse alertá-lo.
E ela continuava falando sobre essa
ideia do apartamento. Disse a ela que não havia pressa, mas isso não parou seu
falatório...
Era quase como se pensar nela a
evocasse na pequena tela na frente dele, de repente preenchida com o rosto
dela.
– Segure a câmera – disse ao técnico à
sua frente, e se inclinou.
As câmeras sempre paravam em uma menina
bonita e Clementine com seu lindo rosto, sua riqueza de cabelo solto sobre os
ombros, calças jeans e casaco era apenas isso. Possessividade o agarrou por
trás, pelo pescoço.
Ela estava lá fora. Sozinha.
Serge registrou tudo isso, enquanto
Alex disse algo sobre ir lá embaixo e mostrar-se no camarote dos proprietários,
apenas para fazer a mídia feliz.
– Essa menina – disse Serge. – Descubra
qual é o assento dela.
– Você quer que eu vá buscá-la, chefe?
– Não toque nela – rosnou Serge. – Vou
lá embaixo. Mantenha-me informado por telefone.
Alex se encontrou com ele enquanto
corria pelo labirinto de corredores.
– Eu pensei que você estivesse saindo
com uma mulher australiana.
– Estou.
Assento 816 FF. Ele tinha seguranças ao
seu lado quando se aproximou da mulher. Ela possuía aquela expressão tensa no
rosto que ele reconheceu. Não estava confortável com todo o barulho e pessoas
ao redor. Ótimo. Podia ensiná-la uma lição.
Não esperava a expressão de alívio no
rosto dela quando o viu, nem esperava sua reação de satisfação. Ela sabia a
quem pertencia. Então seu olhar deslizou para os seguranças, franziu a testa e
olhou para ele, inquieta.
Ele não disse uma palavra, apenas a
tirou de seu assento. Ela olhou em seus olhos.
– Serge, você não precisava fazer isso.
– Você tornou necessário com suas
ações, Clementine. Tenho certeza de que tem uma explicação para o que pensa que
está fazendo, mas eu não tenho tempo para ouvi-la.
Ele colocou seu braço ao redor dela e
começou a conduzi-la.
Tentando acalmar a situação, ela riu
constrangida.
– Nossa o que você vai fazer?
Prender-me ou algo assim?
– Eu vou colocá-la você em algum lugar
seguro e você vai ficar lá. Eu não tenho tempo para vigiá-la, Clementine. Este
não é um ginásio local e um ambiente controlado.
Clementine sentiu uma pontada quando se
lembrou de sua reação embaraçosa quando ele a tinha levado, por sua
insistência, para assistir a uma luta. Ela interrompera seu trabalho, seu
trabalho importante, e estava fazendo isso novamente.
Ela não queria. Não era para ser assim.
Se ele não tivesse vindo e a arrancado da multidão, ela ainda estaria sentada
lá em cima sem nenhum problema.
Ele é que tinha um problema e ela não
levaria a culpa.
Quando eles se aproximaram do camarote
dos proprietários, ela sussurrou:
– Talvez se você tivesse simplesmente
me dado um convite, eu não teria que comprar uma entrada.
– Kisa, se você fizer algo desse gênero
novamente, não haverá qualquer convite. Nunca mais. Ponto final.
E com isso ele a empurrou na frente de
um grupo de estranhos e disse para a mulher mais próxima:
– Kim, esta é Clementine. Clementine
Chevalier, Kim Hart.
E assim Serge a apresentou a todos.
Então ele a jogou em um banco central e fez alguém colocar um copo de vinho
branco em sua mão. E foi embora.
Clementine observou-o sair, tentando
não parecer muito em pânico. Ele iria voltar para ela? O que ele quis dizer com
não haverá mais convites? Ela ultrapassara algum limite de relacionamento que
não sabia?
Uma loira cujo nome Clementine tinha
esquecido se inclinou para frente e bateu em seu ombro.
– Então, como é ser o aperitivo do mês?
– Ignore-a – disse outra voz à sua
esquerda e a mulher que Serge havia apresentado como Kim deslizou para o
assento ao lado dela. – Primeiro evento?
– Sim, estou ansiosa – respondeu ela,
um pouco surpresa pelas palavras de Serge e, em seguida, pelo comentário sobre
“Aperitivo do mês”. Fazendo o seu melhor para minimizá-la, ela ativou o modo
“trabalho” em seu cérebro. – Então, qual é o lance aqui? Estão todos ligados à
Marinov Corporation?
Kim era do tipo faladora e parecia ter
um conhecimento abrangente do negócio. Discorreu sobre os agentes dos
lutadores, os patrocinadores presentes e então se focou nos lutadores e suas
estatísticas. Clementine não tinha o menor interesse, mas enquanto Kim falava
foi capaz de olhar em volta, mergulhar um pouco na atmosfera.
Mais de 30 pessoas circularam no
luxuoso ambiente com bebidas e petiscos. Havia pequenas telas em todos os
lugares, com lutas diferentes sendo transmitidas de fora da arena.
Ela de repente se sentia feliz por estar
ali.
– Quando começar, nós desceremos e
tomaremos assentos ao lado do ringue – explicou Kim. – Jack, meu parceiro,
trabalha com processamento de dados no topo da pirâmide da empresa.
Completamente sem glamour. Esta é a única parte interessante do seu trabalho...
– Onde está Jack?
– Lá. – Kim apontou para ele, um homem
esguio na casa dos 30, vestindo jeans e uma jaqueta e, de certa maneira,
trabalhando para fazê-los parecer um terno. Clementine conhecia o tipo. Ela
olhou para Kim. – Você acha que eu poderia bater um papo com ele? Estou
interessada em saber como tudo funciona.
Serge voltou para buscar Clementine
para a luta. Encontrou-a com um público masculino... Que novidade. Dois
contadores e Liam O’LOUGHLIN, seu vice-chefe de promoção. O que quer que ela
estivesse dizendo, os caras fitavam-na.
– Por que você não pode ficar com as
meninas e se comportar? – perguntou ele enquanto a levava embora.
– Eu não sei Serge. Talvez eu fique um
pouco entediada falando sobre a cor das unhas.
– Não é isso o que quero dizer, kisa,
e você sabe. Um terço da minha equipe de gestão é de mulheres.
– Eu sei.
Ele parecia estar prestes a dizer
alguma coisa, mas a parede de ruído os atingiu quando saíram do camarote e não
houve chance para mais conversa. Serge colocou seu braço ao redor dela,
instantaneamente separando-a do mundo em seu abraço.
Percebeu que estava tendo seus 15
segundos de fama quando os viu refletidos no enorme telão acima do ringue.
A combinação de luzes, música e uma
animada multidão fez o sangue de Clementine ferver nas veias e ela podia ver
que Serge não estava indiferente. Ele podia parecer concentrado, mas gostava da
algazarra em algum nível. Ela não tinha notado antes, mas havia uma sensação
real de exibicionismo em se colocar em um espetáculo como aquele. Esse outro
lado de Serge a atraía.
Quando chegaram aos assentos, Serge a
apresentou de maneira genérica às pessoas sentadas com eles, incluindo dois
famosos rostos masculinos.
– Da, kisa – respondeu
ele, sentando-se e esticando suas longas pernas.
Ele parecia um rei em seu trono, pensou Clementine, divertindo-se.
– Não estou impressionada – disse ela.
Estava, mas não por qualquer uma das
razões mais óbvias.
– Serge, quanto isto está custando?
Deixando de lado os patrocinadores?
Ele deu um sorriso.
– Não se preocupe Clementine. Eu ainda
posso mantê-la no estilo que você está acostumada.
Por um momento, o volume foi reduzido e
tudo o que podia ouvir era o bater de seu coração. Serge não tinha sequer
percebido, toda a sua atenção em algo que alguém estava dizendo sobre a luta.
Clementine deslizou a mão para longe da
dele e dobrou os braços. Serge nem percebeu. Apenas descansou seus braços sobre
os joelhos.
A luta estava começando, mas isso não
importava mais. Serge havia deixado muito claro como a enxergava. Seus
sentimentos por ela eram tão significativos quanto o espetáculo que estavam
desfrutando.
Ela era como disseram, o “aperitivo do
mês”. Ele não a levava a sério. Mostrar a ele suas habilidades profissionais
não mudaria nada.
A luta começou e Clementine se abraçou.
Era a reação da multidão mais do que o contato dos corpos batendo no ringue que
reverberava através dela. Sentia toda vez que os ossos se chocavam. Podia
sentir a atenção de Serge sendo arrastada para ela e manteve seu queixo para
cima, tentando não vacilar.
O braço de Serge estava em torno dela e
sua boca, em seu ouvido.
– Por que diabos você veio aqui,
Clementine?
Para ter uma ideia do trabalho,
murmurou uma pequena voz sarcástica, mas ela não expressou isso.
– Estou bem, Serge.
Ela levantou a cabeça, obrigou-se a
olhar para o ringue. Serge fez um baixo som e ficou de pé, assustando as
pessoas ao seu redor. Estava segurando sua mão. Ela queria resistir, porém era
constrangedor demais. Ele a acompanhou em direção à saída, seus seguranças
correndo à frente, abrindo caminho. Sentiu-se humilhada, enquanto Serge a
arrastava severamente para longe das luzes e da música.
Serge ficou em silêncio, enquanto eles
dirigiam em alta velocidade ao longo da rodovia. Ele não disse uma palavra a
ela que não “Entre”. Não acreditava no quão autoritário ele estava se
comportando.
Ele permaneceu em silêncio quando
entraram na casa.
Clementine tirou o casaco e foi direto
para o andar de cima. Ela não queria ir para a cama. Não queria fingir que
aquilo era normal. Porém era tarde e não havia mais nada para fazer. Ela entrou
no banheiro para tirar a maquiagem e se despir. Vestiu seu pijama.
Então se deitou na cama e esperou. E
esperou.
Ele não estava vindo para a cama.
Ótimo. Ela não o queria lá. Quem Serge
pensa que é sugerindo que ela estava com ele pelo que poderia lhe dar
financeiramente? Ela era independente, trabalhava. Nunca dependeu de ninguém
para nada.
No entanto, a maneira como Clementine
se sentiu naquela noite não fora tão ruim. Uma parte dela havia gostado de seu
autoritarismo, havia gostado de ser a menina ao seu lado. O puro impacto físico
dele, seu carisma, a maneira como as pessoas pulavam fora de seu caminho.
Serge era dono daquele mundo de uma
maneira que ela não entendera bem antes. Era um homem que reinava sobre um
império que celebrava o machismo e, além do lucro pesado, havia um elemento de
enorme apelo sexual.
Se ela fosse aquele tipo de mulher.
Clementine pôs as mãos em suas
bochechas quentes e sacudiu a cabeça em desespero divertido. Ele estava encharcado
de sensualidade essa noite. Quem ela estava enganando? Tudo em Serge a excitava
e ele sabia disso.
Ela estava se esforçando durante toda a
semana para se proteger, para ser a mulher independente, que tinha a própria
vida e não estava esperando que ele oferecesse nada mais do que o que dera a
qualquer outra mulher. Ela possuía seu orgulho e escondia as próprias
necessidades por trás dele.
Mas agora ela não se preocupou em
esconder seu alívio quando ele finalmente apareceu. Despojado, de jeans e
camiseta, parecia o cara grande e forte que era e ela foi honesta o suficiente
consigo mesma para admitir que gostava disso. Gostava o suficiente para querer
empurrar de lado a raiva e mágoa e escalá-lo como uma árvore. Seu orgulho a
manteve sentada de pernas cruzadas no meio da cama.
– Precisamos conversar – disse ele sem
rodeios.
– Sim, precisamos – disparou. – E eu
vou falar primeiro. Agora, ouça. Sou muito boa no meu trabalho e seu pequeno
império de combate teria sorte em me ter. E se acha que a minha vida aqui é ser
mantida por você, é melhor mudar de ideia. Tudo bem?
Ele ficou em silêncio, apenas olhando
para ela. Clementine se deslocou inquieta na cama.
– Você está me ouvindo? – Sua voz
tremia um pouco.
Em resposta, Serge tirou a camisa.
Conforme os músculos e a pele masculina apareceram, Clementine perdeu um pouco
da concentração.
A camisa caiu no chão.
– Serge?
– Você foi escondida – foi tudo o que
ele disse o olhar descansando em sua boca.
Ela umedeceu os lábios, movendo-se
sobre o colchão.
– Você tem alguma ideia de como eu me
senti vendo você naquela tela e sabendo que estava lá fora naquela multidão?
Sua voz era baixa, intensa, e ele não
estava realmente fazendo uma pergunta. Ele estava fazendo afirmações.
O coração de Clementine começou a
galopar.
No entanto, por algum motivo, ela
pensou que aquele era o melhor momento para lançar-se fora do cais emocional e
deixar escapar:
– Não, eu não sei como você se sentiu,
porque você nunca fala sobre seus sentimentos.
Um sorriso apertado apareceu no canto de
sua boca, como se soubesse de algo que ela não sabia.
– Bem, vou falar agora, kisa.
– Que bom – provocou ela, dando um
pequeno “Oh” quando ele puxou os jeans para baixo. Ele estava nu e excitado e
segurando um preservativo.
Ele a jogou sobre as costas e desceu
sobre ela, prendendo-a com o seu corpo maior. Em um segundo Clementine estava
deitada de costas olhando nos olhos do homem que a tinha resgatado daqueles
bandidos na passagem subterrânea.
– Agora... Vamos falar sobre como eu me
sinto, Clementine. Que tal sobre como eu me senti quando vi você sozinha
naquela multidão?
Ele tirou sua blusa e se inclinou para
acariciar o mamilo rosado com o queixo.
– Que tal sobre como me senti quando vi
você paquerando homens que trabalham para mim?
Ele tomou o mamilo em sua boca.
– Eu não sei como você se sentiu –
engasgou ela, mas começou a imaginar.
Seu corpo começou a cantar quando a mão
dele foi para o sul sob o elástico do pijama, testando sua disposição. Ela
estava pronta desde o momento em que ele disse “Precisamos conversar”.
– Eu me senti assim. – Ele despiu seu
pijama e segurou suas nádegas. Suas coxas se abriram por vontade própria e ela
o acolheu enquanto ele a penetrava com um único movimento de tirar o fôlego.
– Eu me senti assim, Clementine. – E
ele se moveu dentro dela, até que ela sentiu toda a raiva e tensão nele se
transformando em algo que dominou a ambos.
O que foi aquilo?
Serge se levantou e jogou fora o
preservativo no banheiro. Clementine observou enquanto ele caminhava lentamente
de volta para a cama. Ele se deitou ao lado dela e puxou seu corpo. Deu um
beijo em seu ombro, sem dizer nada. Foi então que Clementine percebeu que não
tinham se beijado nem uma vez.
No entanto, aquilo fora mais íntimo que
qualquer coisa antes. Ele não deveria estar com raiva? Ela não deveria estar
também? Em vez disso, Clementine se sentiu mais próxima dele do que nunca.
Serge a apertou mais. Que diabos ele
estava fazendo? Quando ele a tinha visto no monitor, seu único pensamento fora
buscá-la. Todo o resto havia sido apagado, menos a necessidade de mantê-la
segura.
– Foi assim que você se sentiu? –
sussurrou ela, virando a cabeça para olhar para ele, seus olhos meio fechados,
a expressão tão opressiva que ele sabia que estavam prestes a repetir tudo de
novo.
– Não sei como me senti – admitiu em
uma voz profunda, seu sotaque ressaltado. – Mas sei que agora você está segura.
Seus braços se apertaram ao redor dela.
– Sim, estou segura – respondeu ela,
estendendo a mão e acariciando seu grande braço, soando mais confiante do que
se sentia. Em seu interior, tudo estava fora de ordem. Como se ela não mais
pertencesse a si mesma.
Mas o que aquilo significava? Que ela
pertencia a Serge?
AUTOR: LUCY
ELLIS
ESCRITO: FARUK
ISSUFO