SETIMO CAPITULO
A Academia era um edifício de tijolos simples. E
Serge estava certo sobre o suor e a testosterona. Ele a apresentou a um homem
chamado Mick Forster, um cara atlético na casa dos 50, que foi educado, mas não
prestou mais atenção nela. Todos os outros homens no ambiente viravam seus
pescoços conforme ela passava e Clementine nunca se sentira tão evidente em sua
vida. Ela ficava feliz por estar usando roupas neutras.
Optou por não segurar na mão de Serge.
Não seria a mulherzinha em seus braços.
Ela cruzou os braços e caminhou mais
para dentro da academia, observando os atletas, tentando não olhar muito tempo
para qualquer cara em particular. Estava mergulhada em território masculino.
Era assim que Serge começara.
Interessante.
Ela voltou e encontrou Serge
conversando com um grupo de homens. Sentou-se em um banco. Um jovem baixo e
forte escorregou sob as cordas e para dentro do ringue. Um cara maior o
defrontou e Clementine assistiu com interesse, enquanto eles começaram as fintas
e jabs. Era uma espécie de balé masculino.
Ela notou que ninguém se sentou ao lado
dela. Não havia nada amigável sobre qualquer um desses caras, mas suspeitava
que não era pessoal. Sua atenção voltou para Serge. Ele falava em voz baixa com
Mick Forster e os dois estavam concentrados na disputa.
Então Mick disse alguma coisa, e tudo
aconteceu de uma só vez. Os golpes eram para valer. Clementine estremeceu
quando os corpos dos homens colidiram. Ela desviou os olhos, mas os sons
continuavam chegando.
– Clementine, gostaria de esperar no
escritório? – Serge estava debruçado sobre ela, bloqueando sua visão do ringue.
Sem discutir, ela assentiu. Sentiu-se
envergonhada e vagamente culpada.
– Por que diabos você trouxe ela aqui?
– disse Mick quando Serge retornou.
Serge sentiu uma onda incomum de
irritação.
– Minha vida pessoal não é da sua
conta, Mick.
– Ela é uma distração. Você precisa
tirar os olhos dos peitos dela, rapaz. Um movimento político contra essa
organização e estádios vão fechar como ratoeiras em todo o país.
A expressão de Serge permaneceu branda
enquanto dizia, mas com ênfase letal:
– Se mencionar os peitos de Clementine
novamente, nossa conversa acaba por aqui, Mick.
– Bem, bem... – Foi tudo o que disse.
Então, em voz mais baixa, continuou: – Você acha que ela está disposta a ser
fotografada segurando sua mão em alguns eventos de caridade?
CINCO MINUTOS depois,
Serge emergiu. Clementine se levantou.
– Já terminou?
– Vamos embora, kisa.
Não era o mesmo que estar terminado,
mas eles entraram no carro, e ela disse baixinho:
– Desculpe-me. Você estava certo. Eu
não devia ter vindo.
Inesperadamente, ele a puxou e beijou
seus lábios surpresos, um gesto de conforto.
– Não, você não devia ter vindo, mas
foi culpa minha.
– Quem era ele? O lutador?
– Jared Scott. Vamos contratá-lo.
– Isso é bom?
– Conto com isso, kisa.
Estamos investindo bastante nele.
– Como funciona? O que gera o dinheiro
além da venda de ingressos?
– Apostas – disse Serge
categoricamente. – Era só isso inicialmente. Mas a organização ganhou
patrocinadores. Quando os rapazes entrarem no ringue daqui a duas semanas aqui
em Nova York, vão estar cobertos de logotipos.
– Haverá uma luta?
– Nós chamamos de eventos. Nem pergunte kisa.
Clementine desviou o olhar.
Ele não sabia por que, mas sentia o
desejo de tranqüilizá-la. Estava acontecendo desde que Clementine se sentara na
cama envolta na toalha, parecendo perdida. Mas seu instinto de autopreservação
o segurou. Não queria criar esse tipo de dinâmica no seu relacionamento.
Sua mão apertou a coxa dela, que olhou
para cima.
– É muito difícil para uma mulher andar
naquele ambiente. Você esteve muito bem.
Era desconcertante perceber que ele
tinha lido seus pensamentos. No entanto, ela estava começando a antecipar os
dele.
– Vou ver você durante o dia?
– Você sabe por que eu precisava voltar
para Nova York, kisa. É um momento agitado do ano.
Serge se esforçou para manter seu tom
razoável. Sabia que aquela pergunta estava por vir. Todas as mulheres que ele
saía queriam um tempo que não tinha para oferecer.
– Nós temos apenas uma semana.
Devia estar relaxado. Devia ser um
terreno familiar. Não era.
– Que tal você ficar após o fim da
semana?
– Ficar?
– Depois de ontem à noite e hoje,
Clementine, eu estaria comprovadamente louco se a deixasse ir.
– Ah. – Estava falando do sexo.
Ele notou que ela tentou puxar o
medalhão que não estava lá por reflexo.
– Não está interessada? – perguntou por
mera formalidade, é claro que ela estava.
– Eu tenho um trabalho, Serge – disse
ela, com a voz mais firme que antes. – Foi imprudente tirar uma semana de
folga. Não sei se poderia conseguir outra.
– Então se demita.
A indiferença de um bilionário. Será
que realmente achava que era fácil para ela?
– Não posso simplesmente largar meu
emprego. É uma carreira e é importante para mim – balbuciou ela. –Além disso,
eu tenho um apartamento e uma vida para custear.
– Clementine, não acho que você esteja
entendendo o que estou oferecendo a você.
Ela puxava o suéter agora. Serge
observou, fascinado, enquanto se esforçava para descobrir qual era o problema e
quanto isso ia lhe custar.
– Duas semanas em sua cama em troca de
uma carreira? Acho que não.
– Eu estava pensando em algo mais
aberto – disse ele, consciente de que Clementine estava prestes a rejeitá-lo.
Como diabos ele se abriu para isso, não tinha ideia. Tudo o que queria era
continuar a vê-la.
No entanto, ele não era capaz de dizer
as palavras vou fazer valer o seu tempo.
Talvez porque nunca tivesse realmente que dizê-las a uma mulher. As mulheres
que ele escolhia para estar entendiam o contrato tácito: sexo mutuamente
agradável, certo estilo de vida disponibilizado e, no final, uma recompensa na
forma de jóias ou qualquer outra coisa que suavizasse as bordas do que era
essencialmente um contrato sexual.
Clementine olhou para ele com aqueles
olhos cinzentos.
– Não sei Serge – disse ela com
dignidade. – Você não fez muito esforço até agora.
Sto? Ele corou. Não fez muito esforço? O
que exatamente isso significa?
– Não vi você hoje, e na noite passada
me senti... Estranha.
– Estranha?
Ele repetiu a palavra como se ela
estivesse falando outra língua.
– Eu me senti um pouco... Usada –
confessou.
Os olhos dele se estreitaram.
Clementine observou a mudança cautelosamente.
– Do que você precisa Clementine?
– Tempo. Com você.
Pedia o mais difícil, pensou ele. Diamantes eram muito mais fáceis.
No entanto, uma espécie selvagem de
certeza sobre como isso se desenrolaria o fez se focar na única coisa que ela
parecia estar pedindo, que era, na verdade, o que ele poderia lhe dar.
Tempo em sua cama. Tempo com ele. Tempo
para ambos.
– Serge?
Nunca se sentira assim com nenhum outro
homem. Não queria que acabasse. Mas não podia perder seu respeito próprio se
ele só pensava nela como uma conveniência.
– Vou arranjar tempo. – Seus olhos
verdes haviam escurecido.
Serge estendeu a mão para ela e de
repente Clementine estava enrolada naqueles braços musculosos, sendo beijada do
jeito que sonhava ser acordada naquela manhã.
CLEMENTINE ACORDOU cedo todas as manhãs pelo resto da
semana. Fez questão disso. Significava que ela dormia levemente e acordava
muitas vezes, mas às 6h da manhã, quando Serge acordava, seus olhos estavam
abertos e ela esperava por ele, falando sonolenta sobre o que tinha previsto
para o dia: uma galeria, um passeio no Centro, uma caminhada pelo Central Park.
Serge ouvia e, gradualmente, falava um pouco do que estaria fazendo. Percebeu
que não parecia acostumado a se explicar, mas estava se esforçando. Era um
começo.
Na sexta-feira, a falta de sono a
venceu. Foi à luz em seu rosto que a acordou, na cama já vazia. Seu coração se
afundou. Porque deixava claro o que ela estava evitando desde a primeira manhã:
não era o início de um relacionamento, era uma aventura sexual.
As pessoas as tinham. Ela possuía
amigas que dormiam com homens com a única finalidade de obter prazer sexual.
Era uma parte natural da vida. Aparentemente.
Não para ela. Apenas fazia sexo em
relacionamentos... Do tipo que tinha um quadro de cuidados mútuos e visão de um
futuro juntos. Que ambos os seus relacionamentos tivessem sido terminados por
ela, nenhum verdadeiramente tocando seu coração, não tornava isso menos
verdade.
Entrara neles com inocência, crença no
amor, até que Joe Carnegie a mostrou exatamente quão básicas as relações entre
homens e mulheres podem ser.
Essa experiência a assombrava, e ela
não percebera o quanto até conhecer Serge. Tinha medo de dar muito de si a ele,
de se abrir e ver Serge reduzir aquilo a algo sórdido.
Pensou que o conhecia, ele era doce,
generoso e atento, mas acordar sozinha agora, como na primeira manhã,
trouxe-lhe tudo de volta. Como eles se conheceram, onde estavam agora... Em um
hotel, ele com sua vida profissional, a vida dela em hiato.
Sentando-se, olhou tristemente ao redor
do quarto. Nunca se acostumou ao luxo. Mas parecia vazio sem ele e, pior, a
fazia se sentir desconfortável. Afinal, eles não tinham um relacionamento.
Serge entrou no quarto com duas canecas
de café.
– Você está acordada, dushka.
– Serge. – Não conseguia esconder seu
prazer ao vê-lo.
– Cubra-se ou não me responsabilizo por
minhas ações. E temos que andar logo. Vou levar você aos Hamptons para o fim de
semana.
– Agora?
O olhar dele pousou no corpo nu de
Clementine.
– Você está propositalmente tornando
isso difícil. Da... agora.
Clementine saltou da cama e correu para
a porta.
SERGE OBSERVOU Clementine.
Gostava de acordar com ela quente e doce, envolta nele, e não fingiria que não,
até teve um impulso de ligar para ela durante o dia e ouvir aquele “Serge” sem
fôlego, como se não acreditasse que ele tinha ligado e pudesse largar tudo para
voar para o seu lado. O que nunca fez. Não a senhorita independente. Em todas
as suas demonstrações de afeto, parecia que ela estava pairando como uma
borboleta, incerta. A analogia era pertinente... Delicada, caprichosa, difícil
de segurar. Sua indefinição permanecia apesar da semana juntos.
Era claro para ele que ser uma menina
de plantão para um homem rico não era um cenário que Clementine realmente
compreendia. Estava começando a suspeitar que era sua primeira incursão nesse
mundo. Se seus olhos arregalados para a suíte de cobertura não lhe dizia isso,
a recusa em usar o colar de diamante confirmava.
Estava começando a suspeitar que ela
não fazia ideia do que isso tudo se tratava... E estavam juntos nesse barco.
O PASSEIO de helicóptero foi emocionante. A
vista da cidade abaixo era como um filme.
– Você não tem medo, kisa – gritou Serge acima do rugido da
hélice.
– Eu tenho alguns, mas não de altura –
devolveu-a. – Diga-me que não é o lugar onde vamos ficar?
Uma grande casa branca, localizada ao
lado das dunas da praia.
No heliporto, ele pegou a mão dela em
um gesto casual.
– Bem-vinda Clementine.
– Você mora aqui?
– Estou pensando em comprá-la. Estou
alugando no momento.
– E São Petersburgo?
– Inverno. Quando puder.
Pela primeira vez ela percebeu que
fazia sentido para ele ter uma base nos Estados Unidos. Seus interesses de
negócios estavam lá. Serge não viveria em hotéis.
Ele estava apenas com ela em um hotel.
Um desconforto a percorreu, mas o
empurrou de lado. Ela estava ali agora.
– Pode me mostrar a casa?
– Vai ser um prazer – disse ele, com
uma nota de formalidade que não devia tê-la surpreendido.
Confiar um pouco mais nele a fazia
querer coisas que não poderia ter.
Era um pensamento perigoso. Bastava
olhar em torno da casa enorme para ficar consciente do abismo entre eles.
Imaginá-lo no banheiro de seu apartamento a fez gargalhar, e ele olhou curioso.
– O que é engraçado, kisa?
– Eu estava pensando no que uma garota
de classe média de Melbourne está fazendo com um russo bilionário em sua casa
de verão em East Hampton! – respondeu ela.
– Apreciando as comodidades – disparou
ele de volta. – Está tudo à sua disposição, Clementine. Quadra de tênis,
piscina, salão de jogos, teatro e, claro, o oceano Atlântico.
Chegaram ao outro lado da casa e saíram
para o deque, estendendo-se como a proa de um navio em direção às dunas
gramadas e ao Atlântico mais além.
– É enorme. Você não pode viver aqui
sozinho.
– Vou usá-la para entretenimento neste
verão. – Ele encolheu os ombros. – E eu não vou viver aqui sozinho no momento.
Tenho você.
Clementine tentou não apreciar demais
esse comentário, mas teve que abaixar o queixo para esconder seu sorriso. Serge
realmente estava sendo muito doce. Desde a conversa no carro ele passara a ser
tudo o que ela precisava que fosse. Foi muito fácil esquecer que estava ali
apenas de passagem.
Embora ele tenha dito que queria mais.
E depois de uma semana, ela também. Olhou para ele, perguntando-se como abordar
o assunto.
Ela ainda estava pensando nisso quando
Serge a deixou para fazer algumas ligações. Pensou tristemente que, com Serge,
não era com outras mulheres que ela precisava se preocupar. Era com os
negócios. Se ela pretendia ficar com ele, precisava arrumar um emprego.
Ocorreu, assim, que com a Marinov Corporation enfrentando um grande problema de
relações públicas no momento, suas habilidades podiam ser úteis.
Estava cansada de moda. Queria algo
para se jogar de cabeça.
Mas, principalmente, seria bom para
mostrar a Serge a menina inteligente embrulhada no pacote de garota sexy.
Serge reapareceu em 15 minutos,
trajando apenas uma bermuda.
Os joelhos de Clementine ficaram
fracos.
– Que tal dar um mergulho, kisa?
Seu rosto se entristeceu.
– Não tenho roupa de banho.
Ele piscou para ela.
– Já cuidei de tudo.
– Não vou vestir algo que pertencia a
uma mulher qualquer que você trouxe aqui.
Por um momento, Clementine pensou que
ele iria dizer algo sobre a tal mulher. Contudo, ele deu de ombros.
– Mandei comprar um guarda-roupa de
verão para você, Clementine. Verifiquei o tamanho de suas roupas.
– Você comprou roupas para mim? –
disse, lutando para manter o controle da voz.
– Da... Sou
um príncipe.
Ela procurou em seus olhos algum traço
de domínio, mas ele parecia relaxado.
Tudo bem, ele estava transformando tudo
em uma brincadeira. Isso não era sobre ela em um vestido de grife em seus
braços. Era casual, apenas entre eles. Tratava-se de sua casa de verão.
Ele a levou para a casa.
Precisava relaxar.
Foi maravilhoso brincar nas ondas frias
do Atlântico. Clementine crescera ao lado da praia e era o que mais sentia
falta na Inglaterra. Havia praias, mas nada como o que estava acostumada em
casa.
Serge nadou com ela. Era um homem
diferente ali. Ria e brincava com ela e parecia ter deixado a cidade e todas as
suas tensões para trás.
Enquanto voltavam da praia, sentiu-se
confiante o suficiente para trazer à tona o assunto que ela vinha ensaiando em
sua mente durante todo o dia.
– Serge, estive pensando sobre o que
você disse... Sobre minha estada aqui.
Ele a puxou para mais perto. Seu olhar
apreciava a pele molhada.
– Isso soa promissor.
– Eu estava pensando que talvez eu
pudesse trabalhar para você. Deve ter um departamento enorme de relações
públicas.
O calor sexual foi encharcado com um
balde de realidade.
– Nyet... Não, definitivamente não. Não é lugar
para você, kisa.
– O que você quer dizer? Sou altamente
competente no que faço.
– Não tenho dúvida, mas você não vai
trabalhar no ramo de luta, Clementine. Não enquanto estiver comigo.
Ela olhou para Serge com tristeza. Por
que ele tinha que trazer isso à tona? Para dizer que havia um limite de tempo
para tudo? Queria esquecer aquilo, curtir o momento com ele, se o momento era
tudo o que ele poderia lhe dar.
– Ouça. – Ele pegou seu queixo com a
mão. – Eu posso lhe enviar para qualquer empresa de moda de alto nível nesta
cidade. Conseguir um emprego não é um problema.
Ela não pensara nisso. Seus contatos.
– Prefiro arrumar meu próprio trabalho,
Serge.
– Isso quer dizer que você vai ficar kisa?
– Ele deslizou as mãos pelos ombros de Clementine.
Ela jogou seu rabo de cavalo.
– Poderia ser persuadida.
Ele a persuadiu. Serge tentou ignorar a onda de calor que o pensamento trazia.
Qualquer outra mulher organizando sua vida para se adaptar à dele o deixaria em
alerta. Mas não ela. Não queria que Clementine voltasse para Londres.
NAQUELA NOITE, o sexo foi rápido e selvagem.
Clementine caiu em um sono profundo, quase imediatamente, mas ele permaneceu
acordado por muito tempo, com o luar derramando-se sobre a cama e o rosto
iluminado de Clementine pela luz pálida no travesseiro ao lado. Ela era a
mulher mais bonita que ele já tinha visto. Mas seus traços eram um pouco
irregulares, havia sardas por todo o seu corpo e ela possuía o mais cativante
roncar. Por que tudo isso a deixava mais bela, ele não sabia. Deixava-a, no
entanto.
Ele deve ter cochilado, porque acordou
ouvindo a voz suave dela em seu ouvido. Estava lhe dizendo coisas e, em um
primeiro momento, tudo o que ele fez foi ouvir. Como tinha sido difícil para
ela chegar a Londres três anos antes, sem conhecer ninguém, todos os problemas
que passou os empregos que suportou. Mas sempre continuava pensando: Eu não
posso voltar. Não posso colocar o rabo entre as pernas e ir para casa. Há uma
vida maior para mim no mundo.
Descobriu que apenas estava ouvindo
tudo isso porque seus olhos estavam fechados. Sua misteriosa Clem se abria e
ele não se sentia disposto a afugentá-la movendo-se um centímetro. Podia sentir
seu cabelo deslizando sobre seu braço e peito, a pressão quente de seu peito,
barriga e perna. Estava pensando em como ela era doce, confiando nele dessa
maneira.
Ela encontrara Luke, seu antigo colega
de escola e vizinho, em um pub.
– Você se lembra do Luke? Ele ia dar um
soco no seu nariz.
E de repente sua vida começou a se
abrir. Sob os conselhos de Luke, ela conseguira seu primeiro bom emprego na
agência Ward, representando estilistas emergentes. Até que conseguiu o emprego
com Verado.
Ela disse a ele que Luke sempre lhe
aconselhava a fazer todos os contatos possíveis. Aprendeu a se relacionar, a
tirar o máximo do que tinha e paquerar até não poder mais e, como resultado,
conseguira empregos.
Da, ele já entendera. Tinha imaginado que
ela inventara a personagem de sexy-girl apenas para chamar atenção. Só não
relacionara à sua vida profissional. Mas fazia completo sentido. Por isso nunca
teve aquela garota sexy em sua cama. Tinha alguém melhor, muito mais real,
sensual, genuína.
Ela acariciou seu pescoço e ele abriu
os olhos para olhar para ela.
– Assim que deixei o Exército, estava perdido,
pulei de trabalho em trabalho.
Ela deu um pequeno suspiro.
– Você está acordado?
Ela parecia desanimada.
Ele absorveu seus olhos arregalados e
preocupados, o calor se acumulando nas bochechas. O impulso para não
constrangê-la o fez continuar falando. Sobre a venda de peças mecânicas no
mercado negro, sobre uma tentativa fracassada de criar uma empresa de
exportação, sobre a academia que possuía que ele quase perdeu quando a empresa
de exportação foi à falência, mas acabou se tornando seu trampolim.
– Por que você se interessou pelo ramo
de luta?
– Começou no Exército... Lutando por
dinheiro. Passei a organizar partidas. Não é um esporte suave, kisa.
É melhor estar nos bastidores.
Instintivamente Clementine estendeu a
mão e gentilmente tocou a ponta de seu nariz.
– Foi assim que você o quebrou?
– Duas vezes. Aconteceu há muito tempo.
Nem sequer me lembro da dor.
Ela lhe acariciou o peito.
– Não gosto da ideia de você apanhar.
– Eu sou um cara durão, kisa.
– E a sua família? O que eles pensam
sobre você estar envolvido no esporte? E sua mãe?
– Minha mãe morreu quando eu tinha 19
anos – disse, calmamente. – Ela tomou alguns remédios.
Clementine levantou a cabeça, a testa
franzida.
– Nunca vamos saber se foi suicídio. É
provável que sim. Não fique tão triste, Clementine, isso foi há muito tempo.
– Sua mãe? – disse ela suavemente,
acariciando-o.
– Deixe-me lhe contar algo sobre mães, kisa.
A minha se casou jovem. Meu pai era engenheiro... Idealista, provavelmente
bipolar. – Ela parou de acariciá-lo e seus olhos estavam presos aos dele. –
Meus pais se amavam com uma intensidade que não permitia nem ar no meio do
relacionamento ou qualquer luz em nossa vida familiar. Eram duas apresentações
diárias de Turandot.
Clementine permaneceu em silêncio,
tentando formar uma imagem do que sua infância deve ter sido.
– Papai entrou na frente de um carro
uma tarde, quando eu tinha 10 anos, e tudo mudou. Mamãe se casou novamente
alguns anos mais tarde. Meu padrasto e eu não nos dávamos bem, e eu fui mandado
para a escola militar. Antes de sentir pena, kisa, saiba que foi o melhor lugar para mim.
Eu raramente via minha mãe e minha irmã depois disso. Meu padrasto fez fortuna
com a queda do comunismo e prontamente a perdeu... Colocou uma bala em sua
cabeça. Mamãe não estava muito atrás. Como vê... Uma ópera em quatro atos.
Clementine ficou em silêncio por um
momento e então deitou a cabeça em seu ombro.
– Sim, você é – disse ela suavemente.
– Eu sou o quê? – perguntou ele com a
voz áspera.
– Um cara durão.
Eles ficaram quietos por um tempo e, em
seguida, ela confessou:
– Eu não quero voltar para a cidade.
Foi o mais próximo que ela conseguira
manifestar sobre seu desconforto em viver em um hotel com ele.
– Enjoou do serviço de quarto?
Ele estava brincando com ela, mas havia
algo mais em sua voz. Uma tristeza. Possivelmente uma sobra de suas revelações,
ou talvez estivesse apenas cansado de tentar impressioná-la.
– É um pouco impessoal, não acha? Não
tinha percebido até chegarmos aqui. Estar nesta casa é mais parecido com a vida
real.
Serge se sentiu desconfortável e não
era uma sensação familiar para ele. O impessoal não estava funcionando para ele
também. Ele a trouxe ali para definir parâmetros de seu relacionamento futuro,
mas a mulher deitada em seus braços não se encaixava nesses termos. Nunca
revelará a mulher nenhuma, ainda que considerasse todas juntas, tantos detalhes
sobre sua vida.
– Que tal tornarmos mais como a vida
real?
Ela olhou para cima.
– Eu vou levar você de volta para minha
casa, Clementine. Acho que o cenário do hotel está desgastado, não?
Ele tinha uma casa na cidade. No
entanto, eles ficaram em um hotel por uma semana.
Por um momento, todo o mundo de
Clementine balançou e tudo o que tinha vindo antes assumiu uma luz nova, mais
dura.
– Entendo – disse ela suavemente.
– Não entenda muito, Clementine – falou
ele em voz baixa, e ela balançou a cabeça. Era tudo o que poderia fazer.
Não era pessoal que ele tivesse
escolhido um hotel para conhecê-la, fazer amor com ela, pensou desesperada em
deixar tudo bem novamente, deixar tudo romântico e cheio de esperança outra
vez.
Nem era pessoal que ele tivesse
decidido deixá-la entrar em sua vida, reconheceu dolorosamente. Era apenas uma
escolha que ele estava fazendo, provavelmente para o próprio conforto. Ela se
moveu rápido depois disso, inventando uma desculpa de que precisava usar o
banheiro e se trancando lá dentro, ligando o chuveiro para bloquear o som de
suas lágrimas.
AUTOR: LUCY
ELLIS
ESCRITO: FARUK
ISSUFO