SEGUNDO CAPITULO
Inacreditável...
Clementine mancou sobre uma poça, em direção à luz no fim do
túnel, xingando baixo. Tentou se concentrar nos aspectos práticos. Teria que
encontrar a embaixada, pedir dinheiro emprestado para seu amigo Luke, telefonar
para seu banco em Londres. Ela faria tudo isso após sentar-se e chorar um
pouco.
Sua bolsa era sua vida.
Era sua própria culpa. Normalmente era muito mais atenta. Ficara
tão envolvida em sua fantasia com o cossaco que não prestara atenção. E tinha
arruinado isso também. Ficou muito abalada para fazer qualquer coisa além de
tentar bloqueá-lo, mesmo depois que ele correu para salvá-la.
Ele foi magnífico. Não se encontrava caras como aquele em Londres.
A luz atingiu seu rosto e, andando desajeitadamente com sua saia,
subiu os degraus. Emergindo para a rua, ela mancou até um quiosque próximo e se
sentou. Estava realmente tremendo agora e não tinha muito a ver com a pouca
roupa que vestia. Supôs que fosse um choque tardio, mas ela também se sentia
nua sem sua bolsa... Vulnerável. Estava acostumada a depender de si mesma e a
bolsa tinha tudo o que precisava para se manter segura. Começou a desejar que
não tivesse mandado o cossaco embora.
Era inútil voltar para seus aposentos. Precisava voltar ao centro
da cidade, encontrar Luke.
Foi quando ela viu a limusine parada do outro lado da rua com uma
das portas abertas; em seguida, ela o viu caminhando em sua direção.
Ele havia tirado o casaco e tinha as mãos enfiadas nos bolsos, de
modo que o tecido superfino da camisa azul estava esticado pelo peito e abdômen
musculosos. Parecia poderoso e não era apenas seu tamanho. Era a maneira com
que se portava, com tremenda confiança.
Clementine sentiu o interesse se intensificando. Disse a si mesma
que ela podia lidar com homens, mas todos os seus instintos femininos diziam
que não poderia lidar com aquele homem.
Ele era tão masculino que parecia ser de outra espécie.
Ombros largos, braços grandes, coxas rígidas... Longas e esguias e
vindo diretamente para ela.
Ele esmagou ossos por ela, partiu pele, derramou sangue.
– Vamos, entre. Vou levá-la aonde você quiser – disse
abruptamente, sua voz profunda e cautelosa.
Ela apenas ficou lá, olhando para cima, tentando lidar com suas
sensações.
Ele ergueu as mãos.
– Sou um cara legal. Não farei mal algum. Você precisa de ajuda,
certo?
– Certo – disse Clementine suavemente, distraída pela intensidade
de seus olhos verdes.
– Está hospedada longe daqui?
Clementine sabia que não deveria dizer nada e recusar o passeio,
mas ele a ajudara. Tinha se colocado em risco por uma desconhecida. Ele era um cara legal. E muito, muito sexy.
Isso daria a ela um pouco mais de tempo com ele. E estava tão cansada de cuidar
de si mesma. Não faria mal aceitar uma carona.
– Você sabe onde fica a embaixada australiana?
– Vou encontrá-la.
E ela acreditava que encontraria.
SERGE DEU instruções ao seu motorista observou
aquelas pernas longas dobrando-se para dentro de seu carro, deslizou para o
lado dela. Então ela se inclinou para frente.
Estava tirando as botas.
Puxou um pé para fora, depois o outro, revelando pernas longas em
meias finas pálidas que brilhavam como seda. Sua atividade parecia
inconsciente, como se ele não pudesse estar interessado, mas é claro que ela
precisava saber o que estava fazendo.
Ela mexeu os dedos do pé e lhe lançou um olhar curioso.
– Desculpe querido – disse ela. – São novas e estão incomodando.
Ela pressionou os joelhos e formalmente cruzou as mãos no colo,
totalmente elegante.
Ela era incrível.
– Você é australiana? De Sydney?
– Melbourne.
Ela sorriu seus olhos não encontrando os dele. Era um sorriso
sutil. Ela manteve os lábios franzidos, como se estivesse guardando um segredo.
– Tão longe. O que você está fazendo em Petersburgo? Negócios ou
lazer?
– Ambos. Eu estou aqui trabalhando. – Ela deu de ombros como se
não fosse importante. Os lábios se separando em um sorriso mais aberto. – Mas
sempre sonhei em visitar São Petersburgo. É tão romântica, tão cheia de
história.
– Gostou do que viu até agora?
– Muito.
Ela lhe deu um olhar sorrateiro, deixando claro que não estava
falando sobre a cidade... E não estava ficando quente ali no carro? Ela virou a
cabeça, olhou para fora da janela, expondo o pescoço pálido, coberto pelo
cabelo dourado.
Ele decidiu ir direto ao ponto.
– Quando você vai embora?
Ela encontrou seu olhar, deixando-o ver aqueles olhos cinzentos,
mais escuros do que quando ele os viu pela primeira vez.
– Meu contrato acaba amanhã.
Dois dias. Perfeito.
– Que pena.
– O que você faz? – arriscou ela. – Quero dizer, você deve fazer
algo... Está passeando em uma limusine... – Riu de nervoso. – Deve ser rico ou
algo parecido.
Ele riu baixo e viu a pulsação no pescoço dela se intensificar.
– Algo parecido – murmurou ele, o que claramente a deixou
intrigada.
– Você não é um daqueles que ficam milionários da noite para o
dia, é?
– Nyet, desculpe desapontá-la. Eu trabalhei
muito para conseguir meu primeiro milhão.
– Certo.
Aquelas mãos esguias vibravam em seu colo.
Ela estava obviamente atraída por ele, mas o dinheiro ajudava,
quisesse ela ou não.
– Este seria o momento de lhe perguntar se caso você não tivesse
outro compromisso, jantaria comigo hoje à noite.
Ele a viu engolir em seco. Ela umedeceu o lábio inferior,
arrastando a atenção dele para os contornos de sua boca.
– Você é rápido. Tenho de admitir.
– Você não me deu muito tempo.
– Ah, não imagino que isso o impeça.
– Nada me impede kisa.
Ela deu de ombros negligentemente, um brilho travesso em seus
olhos cinzentos.
– Tudo bem, vamos ver como você se sai.
E ele não adorava um desafio?
Levantando a cabeça de prazer, ele fez um julgamento rápido. Essa
menina claramente gostava de jogos. Era razoável imaginar com quantos outros
homens ela havia jogado esses jogos.
Ele hesitou.
Será que isso importava?
Este era o seu tipo favorito de mulher. Uma mulher com um brilho
nos olhos e uma vontade de apenas se divertir. Sem laços, sem drama. Nada de
“felizes para sempre”.
No entanto, lembrou-se de que precisava ser gentil e atencioso,
como seria com qualquer outra mulher.
Cuidaria dela até que se despedissem em alguns dias.
ELA TERIA um encontro com o cossaco.
A imaginação de Clementine voava, mas antes disso devia esclarecer
algumas coisas. Mas o que diria? Eu não costumo fazer shows sensuais para estranhos?
Concordei em jantar, mas é só isso. Sou uma boa garota.
Mas ele a convidou para
jantar, certo?
E ele a resgatou.
Aquilo foi importante. Ainda estava se sentindo um pouco sem
fôlego.
E, honestamente, quão boa
menina realmente era?
Sem a menor dúvida, ele deveria ser recompensado.
Um pequeno sorriso se formou em seus lábios.
Ela precisava pensar nisso. Tinha percebido o jeito com que ele a
olhava, como se fizesse um inventário sexual das partes que gostava. Ela sabia
aonde aquele caminho levava e não queria percorrê-lo novamente.
Nem mesmo por um cossaco cujos incríveis olhos verdes deixavam
seus joelhos bambos e mamilos enrijecidos.
Serge colocou o braço ao longo da parte superior do assento, para
que sua mão ficasse a poucos centímetros do ombro dela. Ele se posicionou de
modo que estivesse inclinado para ela, pernas longas e musculosas esticadas.
Sem o casaco, ela podia ver a largura de seus ombros e a barriga
plana delineada por baixo da camisa azul escura. Ele realmente era de dar água
na boca.
Pelo amor de Deus, tinha que parar com isso agora! Nem sabia o
nome dele e vice-versa. Ela podia resolver isso, pelo menos.
– Eu sou Clementine Chevalier, a propósito – disse, estendendo a
mão.
– Clementine.
Seu sotaque era maravilhoso. Ele pegou sua mão e levou até os
lábios, e Clementine sentiu o formigamento brotar em suas partes femininas,
enquanto ele transformava o esforço dela para manter a interação formal em um
gesto à moda antiga. O tipo de gesto que tocava bem onde sua princesa interior
vivia.
– Eu sou Serge... Serge Marinov.
Serge, ela pronunciou
silenciosamente, praticou algumas vezes. Era sexy demais. Ela era um caso
perdido.
Expectativa faiscava no ar. O carro parou, e ela pegou suas botas.
– Obrigada pela carona. – Ela parecia sem fôlego até mesmo para
seus próprios ouvidos. – Devo dar o meu endereço ou devo encontrá-lo em algum
lugar?
– Eu vou buscá-la – disse ele, como se esta fosse a única resposta
lógica. – E eu acho que você devia me deixar lidar com a embaixada.
Certo. Ela não ia discutir sobre isso.
– Você realmente quer este encontro – observou Clementine,
enquanto ele abria a porta.
Ele deu um sorriso impenetrável.
– Como estou me saindo?
– O que você acha?
Ela jogou um balanço feminino nos quadris e partiu para o
edifício, divertindo-se com a situação.
Pessoas olhavam para eles, provavelmente se perguntando o que uma
menina como ela estava fazendo com um cara como ele.
Ela estava se fazendo a mesma pergunta.
Clementine tinha imaginado filas, espera infinita, formulários a
serem preenchidos, mas aparentemente Serge Marinov não vivia nesse mundo. Vivia
em um universo paralelo onde se era levado ao andar de cima e lhe ofereciam chá
ou café ou algo mais forte e onde uma alta funcionária se virava em um terno de
negócios e saltos baixos, com olhos iluminados ao ver Serge. A mulher era tão
equilibrada e elegante que deixou Clementine enjoada. Ela sabia que as mulheres
deviam bajulá-lo o tempo todo.
No entanto, ele a salvara de sabe-se lá o quê naquela passagem
subterrânea, a convidou para jantar e agora estava fazendo uma situação difícil
evaporar. Ele estava fazendo todo o trabalho. E em meia hora Clementine já
tinha tudo resolvido: passaporte visto, conta bancária.
– Quem diabos é você?
– Ela deixou escapar enquanto desciam as escadas de mármore do prédio da
embaixada.
– Tenho alguns contatos na cidade – respondeu ele, neutro. – Aonde
posso levá-la agora?
Para onde você quiser, uma voz
cantava. Sua parte chata deu o endereço a ele e registrou sua desaprovação.
– É muito longe do seu percurso?
– Não é uma área particularmente agradável.
– Tenho certeza de que o seu carro vai ficar bem, quero dizer,
você pode simplesmente me deixar em algum lugar e ir embora.
– Estou preocupado que uma mulher esteja vivendo sozinha neste
edifício. Quem providenciou isso para você?
– É uma coisa de trabalho. – Clementine deu de ombros, sentindo-se
desconfortável sob seu escrutínio. – Tudo bem mesmo. Já sou crescidinha, Serge.
Foi a primeira vez que ela disse seu nome e ficou elétrica. Ele
também pareceu gostar, pois se inclinou um pouco mais perto e disse baixinho:
– Você é bonita demais para ficar lá sozinha.
Clementine sentiu os joelhos cedendo. Viu que olhava fixamente na
linha de sua boca. Era tão implacável, mas havia certa suavidade em seu lábio
inferior. Ela queria pressionar o polegar nele, ver se poderia arrancar um
sorriso. Só para ela.
– Você realmente sabe como agradar uma mulher – disse o mais
levemente que pôde.
Ele se inclinou a respiração suave em seu ouvido.
– Você precisa de agrados?
– Um pouco – murmurou ela, envergonhando-se com a reação de seu
corpo.
Ele deu um sorriso malicioso.
– Vou me lembrar disso.
Este encontro não era apenas um jantar. Ela havia sido um pouco
lenta nesse aspecto. Estava planejando seu vestido e imaginando luz de velas e
garçons trazendo champanhe quando provavelmente devia pensar em lingerie e
preservativos.
Era estúpido se sentir decepcionada. Serge estava ali agora, e
tudo começou por causa de sexo. E ele esperava que acabasse em sexo. Clementine
era uma garota crescida, entendia como tudo funcionava. Tinha aprendido da
maneira mais difícil que caras como aquele não saíam com garotas como ela
pensando em um futuro. Precisava tomar uma decisão sobre como lidar com isso
antes que seguisse em frente.
Não que ele tivesse tentado algo. Além do breve gesto de levar sua
mão aos lábios, não tinha colocado um dedo nela. Serge era todo educado.
Sentia-se completamente segura com ele e enormemente grata... E terrivelmente
consciente porque, de repente, estava se perguntando se ele a olhava e via o
que o outro homem tinha visto em seu passado infeliz: uma certeza.
O EDIFÍCIO Vassiliev.
Ele não deixaria nem um cão lá. No entanto, era onde esta menina calorosa e
vibrante estava dormindo.
Se não havia recursos, devia ficar em um desses hotéis de concreto
que abrigava turistas. Não eram atraentes, mas pelo menos eram seguros. Bem,
essa seria a última vez que ela dormiria ali.
Serge a acompanhou até a escada, ainda sentindo-se mal por
deixá-la ali. Clementine parecia envergonhada, como se o ambiente terrível de
alguma maneira fosse culpa dela.
Ficara quieta durante toda a viagem desde a embaixada. Ele
esperava um pouco de flerte, mas ela voltara a pressionar os joelhos e não
tirara as botas. As mensagens ambíguas não o incomodavam tanto quanto
observá-la entrar naquele quarto.
Ela era incrivelmente confiante. Havia entrado em seu carro, dado
a ele os seus detalhes. Provavelmente abriria a porta para qualquer um.
– Mantenha isto trancado – disse ele, batendo no batente da porta
com o lado de seu punho. – Não abra a porta para ninguém que você não conheça.
Ela quase fechara a porta para que ele não pudesse ver dentro. Ou
isso ou ela estava preocupada que ele fosse fazer uma investida agora que
estavam a um passo de uma cama. O que não fazia sentido. Ela estivera mais
exposta na limusine. Mas ele não tinha a intenção de apressar nada. Algumas
horas não fariam muita diferença, e ele pretendia cuidar de Clementine
Chevalier de modo que ela não se esquecesse de São Petersburgo tão cedo.
Seria extremamente agradável para os dois.
Ele lhe entregou seu cartão.
– Este é o meu número. Ligue-me se tiver qualquer dificuldade.
Estarei aqui às 20h.
Ela assentiu os olhos cinzentos cautelosos. Então aquela doce
curva no canto de sua boca apareceu, e Serge lutou contra um impulso de se
inclinar e beijá-la, porque uma vez que fizesse isso, criaria um cenário mais
suave do que o que tinha planejado.
Sexo direto, nada de sedução. Era o que estava no cardápio para
essa noite e a seguinte.
Guardaria a sedução para uma mulher que precisasse.