QUARTO CAPITULO
Serge passara a manhã
ouvindo a discussão que eclodiu entre o presidente de sua empresa e o homem em
que mais confiava: Mick Forster. Enquanto assistia à transmissão na sala de
reuniões do edifício Marinov, em Nova York, para a tela na frente dele, tomara
uma decisão.
– Estarei no JFK amanhã na hora do almoço – disse ele brevemente,
fechando seu laptop.
Estivera fora do país menos de um dia e já tivera problemas com um
jovem lutador, Kolcek, que estava sofrendo acusações de agressão e recebendo
grande publicidade negativa. Mais importante, estavam atrasados na construção
do estádio em Nova York.
No entanto, tudo o que podia pensar era que, por causa de
empreiteiros atrasados e um lutador que precisava ser solto, ia perder Clementine
Chevalier.
Sexy, tentadora e cautelosa Clementine. Qual era seu jogo?
Ele a levara de volta para aquelas acomodações funestas na noite
anterior e insistira em acompanhá-la até a porta. Havia pensado mais em sua
segurança do que em infiltrar-se em suas defesas, quando permaneceu à porta.
Ele tinha visto mais uma vez o quarto monótono e, em seguida, seus olhos
repararam nos preservativos sobre a mesa de cabeceira dela.
Para uma mulher que não beijava no primeiro encontro, ela estava
bem preparada.
Estaria dormindo com outra pessoa? Qual era o problema?
Ela disse que não tinha um namorado, o que não quer dizer que não
fosse sexualmente ativa. Na verdade, seria um crime contra a natureza se não
fosse.
Exceto que agora só a queria sexualmente ativa com ele.
Serge reconheceu que tinha ficado excepcionalmente decepcionado
com a descoberta de que ela não era bem o que parecia. Por algumas horas, ele
desfrutou da fantasia: homem e mulher em um encontro, a simplicidade e
honestidade de sua interação.
Garotas legais não existiam em sua vida pessoal. Ele não estava à
procura de uma esposa, e a mulher que Clementine pareceu ser por uns instantes
esperaria todo o pacote romântico.
Ele não fazia romance. Ele fazia sexo.
E o que uma garota como Clementine estava oferecendo em toda a sua
glória voluptuosa era simplesmente sexo. Perdição entre suas coxas exuberantes.
A promessa naqueles olhos brilhantes no início da noite. A completa falta de
amarra emocional. O tipo de garota que podia ser comprada.
Certa ocasião, uma ex-amante o acusou de ser frio. Por isso ele
escolhia suas parceiras com muito cuidado. Mulheres por quem, em nenhuma
circunstância, ele se apegaria.
Ele tinha visto o que ligações emocionais podiam fazer... A
bagunça que criavam a destruição que ocasionavam em vidas inocentes. Ele vira
isso na vida dos pais.
Seu pai amara a sua mãe completamente... Transformando suas vidas
em uma ópera barata. Quando ele morreu, Serge tinha 10 anos, e sua mãe havia
ficado devastada. Praticamente incapaz de lidar com a situação. Ele vira a
intensidade do amor e o caos que causava quando dava errado ou simplesmente era
arrancado. Sua mãe se casara novamente por razões financeiras. Seu segundo
marido batera nela por sete longos anos antes de uma fuga habitual com uma
overdose de comprimidos.
Ele estivera afastado durante seu período de internato e, mais
tarde, nas forças armadas. Não sabia nada da vida de sua mãe até vê-la no
túmulo com parentes distantes que gastaram um bom tempo enchendo-o de detalhes
sobre seu desastroso casamento... Detalhes que ninguém achou apropriado de dar
a ele durante a vida triste dela.
Distanciamento emocional era fácil para ele.
Então, ontem à noite, quando Clementine tinha visto a direção de
seu olhar e corado, ele ficara curioso para ver como ela agiria. Ela manteve a
calma e olhou para baixo, antes de tagarelar. Ele tinha de ir agora. Ela
possuía o seu número, e ele, o dela. Talvez pudesse ligar da próxima vez que
estivesse em Londres.
A princípio, Serge pensou que ela o estava dispensando. Ele não conseguia
se lembrar da última vez que isso acontecera. Então, tudo fez sentido. Ela
estava esperando ser convidada para sair novamente. Seu corpo dizia que sim,
mas sua mente se tornara fria como pedra. Garota estrangeira em um hotel
barato, contendo qualquer contato sexual, esperando que ele faça daquilo mais
do que um encontro de uma noite.
Ele não tinha nascido ontem. Não ia acontecer.
Serge não tinha escolha a não ser partir sem fazer quaisquer
planos definidos com ela, mas conforme ele se afastava pelo corredor úmido e
pouco iluminado, olhou para trás e descobriu que ela o estava espreitando pelo
corredor, recuando quando ele a pegou e fechando a porta.
E foi isso.
Só que Serge ainda estava pensando sobre ela depois de uma
conferência, uma hora olhando projetos complicados e um monte de xícaras de
café. Não dormira bem. Frustração sexual podia fazer isso. Tomara dois banhos
frios. Havia outras mulheres que ele poderia chamar, mas era em Clementine que
estava interessado.
Bebeu outro gole de café.
Onde ela estava agora? Trabalhando? Relações públicas para Verado.
Ele conhecia Giovanni Verado. De bens de luxo masculinos de alta qualidade.
Clementine conheceria um monte de homens naquele trabalho. Homens com dinheiro,
o que provavelmente era o objetivo.
A boa moça havia evaporado quando ele viu os preservativos. Se ela
não estava dormindo com ele, estava dormindo com alguém... Ou
planejando.
Sua boca torceu cinicamente. Ela gostava de dinheiro.
Provavelmente tinha vários caras com os carros certos, o estilo de vida certo.
Mulheres como Clementine, com esse nível de independência e confiança, nunca
estavam solteiras. Havia sempre algo acontecendo.
No entanto, havia algo mais nela. Ainda podia vê-la batendo
palmas, cantando junto com a música na noite anterior, embora não conhecesse as
palavras. Lembrou como tinha ficado consternada por sua tentativa de beijo e,
em seguida, se coberto.
Queria telefonar para ela e ouvir sua voz.
Queria vê-la. Mais basicamente, queria aquelas pernas compridas em
volta dele e seus sons de prazer estimulando-o.
Mas ele estava indo para Nova York e tempo era o que não tinha.
Ela disse algo sobre uma inauguração. Ele poderia comparecer arriscar.
Um sorriso irônico tocou sua boca. Por que arriscar se a vida não
era feita de sorte? Era sobre ir atrás do que queria, com obstinada
determinação, e não parar até conseguir. Nos negócios e pessoalmente.
Não, melhor ligar e marcar um encontro. Ele não quer dar a ela
muita escolha e em plena luz do dia Serge seria um pouco mais persuasivo do que
tinha sido na noite anterior. Respeitara os limites de Clementine, mas isso não
o levara longe. Ele não havia transformado uma academia em um negócio de um
bilhão de dólares sem saber quando pressionar.
CLEMENTINE SE sentou a uma mesa de calçada,
agradecendo o garçom que lhe trouxe um café. Do outro lado da rua estava a loja
da Verado, onde ela passou a manhã e a maior parte da última semana.
Ela concordou em se encontrar com Serge naquele café por causa da
proximidade com o trabalho. Quando ouviu a voz dele algumas horas atrás, seu
mundo parou. Ela se afastou do grupo em que estava e disse ofegante:
– Serge.
E literalmente ouviu-o inspirando. Sua voz estava grave,
obscuramente sedutora. Ela fechou os olhos e apenas ouviu perdida no feitiço
sensual.
Ela realmente não achou que ele ligaria.
Mas Serge ligou, e agora ela estava lhe esperando porque ele
queria vê-la, falar com ela, provavelmente organizar um segundo encontro. Ele
teria que ser rápido. Seu avião partia às 16h. Ele fez questão, no entanto. Já
havia se passado, aproximadamente, 12 horas desde que eles se despediram.
Ele pode lhe pedir para ficar mais um pouco, e uma grande parte
dela estava considerando dizer sim... Ah, céus, sim.
Imaginar que ela o perdera na noite anterior há deixara um pouco
mais imprudente que o normal durante a manhã. Ela ficara acordada repassando
cada minuto do encontro, isolando tudo o que lhe dizia que Serge não era como
Joe Carnegie. Todos os seus instintos diziam que ele era um cara legal. Ele não
a pressionara quando estava suficientemente claro que esperava mais.
O que a incomodava era que ela deixara Joe Carnegie entre eles em
um momento crucial. Queria beijar Serge, mas o medo a deteve. Medo de ser
apenas algum tipo de conquista sexual da parte dele, de se abrir para outro
homem só para ter sua sensibilidade despedaçada. Era só um beijo, lembrou, mas
nunca se sentiu tão atraída por um homem na vida e precisava ter certeza antes
de seguir em frente.
Pensando nisso, ela tentou não ter qualquer arrependimento. Serge
não se afastou e queria vê-la. Parecia ansioso. Gostava dela e estava se
esforçando.
Só que ele estava atrasado.
Ela olhou para o relógio. Vou lhe dar mais cinco minutos, pensou.
Ele está apenas 15 minutos atrasado. Talvez fosse o trânsito. Mas
definitivamente cinco minutos. Talvez dez...
– Olá, linda.
Ele estava parado à frente da mesa de Clementine, com toda sua
altura, músculos e testosterona. Ela reparou no jeans, na camiseta branca e na
jaqueta marrom de couro. Estava recém-barbeado, cabelos despenteados. Seu
coração começou a bater, impossibilitando-a de ouvir qualquer ruído graças ao
som da pulsação em seus ouvidos.
– Ah, oi. – Ela se esforçou para parecer casual.
Ele gesticulou abruptamente para o garçom.
– O que você gosta de comer, kisa?
– Ah, eu não posso ficar. Tenho que trabalhar e você está
atrasado, então eu só posso lhe dar cinco minutos.
Ele se sentou em uma cadeira próxima. Como ele sentou à frente de
Clementine, ela deu um salto involuntário. A súbita proximidade física tornava
muito difícil se conter e seu primeiro instinto foi recuar. Ele sorriu
conscientemente, como se sua reticência fosse exatamente o que estivesse
procurando.
– Dê-me cinco minutos, então.
Inexplicavelmente, ela lembrou como a noite anterior terminara.
Mesmo agora, seu rosto ficou quente quando pensou nos preservativos de Luke,
como sinais de neon pulsando em sua mesa de cabeceira. Ele provavelmente não
pensara em nada disso, mas ela corou e ele, certamente, reparou. Passara a
noite convencida de que ele tinha visto nela a menina tímida que às vezes ainda
se sentia.
Ele estava estudando seu rosto, suas bochechas rosadas,
demorando-se em sua boca.
– Você é uma mulher linda, Clementine.
Já tinham lhe falado isso antes, mas não era rigorosamente
verdade. Estava longe de ser bela. Seu nariz era um pouco grande, seu queixo um
pouco pontudo e ela possuía sardas demais...
– Sou? – Obrigou-se a sustentar seu olhar. – Foi o que você veio
me dizer?
– Eu não parei de pensar em você.
Ah, ela gostava disso.
– Sinto-me lisonjeada.
Estavam jogando algum tipo de jogo, ela reconheceu, porém ela não
conhecia as regras.
– Eu tenho uma proposta para você, kisa.
Clementine deu um suspiro interno de alívio. Certamente ela podia
reservar algumas horas antes do vôo, quando o trabalho estivesse terminado, e
ela havia planejado tirar um cochilo e se
preparar para a noite.
Ela realmente, realmente, queria passar mais tempo com ele.
Serge estudou sua expressão de expectativa e o resto dela,
gostando do que viu. Ela estava vestida para o trabalho, mas conseguia parecer
escandalosamente sexy. Aquele olhar bagunçava seus hormônios de uma maneira que
a saia de couro apertada não fazia. Ele gostava dela toda coberta. Tornava mais
desafiador imaginar o que estava por baixo.
– Tenho que ir para Nova York amanhã a negócios. Gostaria que você
fosse comigo.
Clementine sentiu como se tivesse sido jogada contra uma parede.
– Vou ficar na cobertura do Four Seasons por uma semana. Acho que
você vai gostar de um pouco de mimo, alguns bons restaurantes, comprar alguns
vestidos bonitos, assistir a um show... De mim.
Dele. Clementine sentiu-se enjoada. Foi levada de volta para a
entrega suave de Joe.
– Mas não quero que você me compre um lugar para morar. Tenho onde
viver.
E ele franziu a testa e disse-lhe que não ia gastar seu tempo
livre em Londres transando com ela em um apartamento compartilhado.
Brutal assim. E tão rápido que ela perdeu todas as suas ilusões
femininas.
– Eu entendo que é presunçoso, mas preciso ir para lá e acho que
há algo entre nós, Clementine. Gostaria de explorar isso.
– Gostaria? – Sua voz saiu como um caco de gelo.
Estava acontecendo tudo de novo.
Ele oferecia coisas como se ela estivesse à venda. Como se seu
corpo estivesse à venda. Porque “venha comigo para
Nova York, querida” não era um convite para desfrutar de sua
hospitalidade sem se servir de bandeja para ele.
Tudo o que ela queria era um encontro. A chance de passar mais
algum tempo com ele, conhecê-lo. Tão ingênua.
Bem na frente dela estava à razão para ter tentado encontrar
rapazes que não eram movidos por sua libido... Homens agradáveis e suaves que
no final a deixavam indiferente. Homens como Serge estavam na outra extremidade
do espectro... Excitantes, desafiadores, mas alimentados pela testosterona,
confiantes em sua capacidade de mandar no mundo e, por extensão, mandar nela.
Aprendera a lição. Não era brinquedo de homem rico.
Levantou-se tão abruptamente que sua cadeira quase caiu sobre a
calçada.
– É uma ótima oferta, Serge, mas eu acho que você escolheu a
garota errada – disse com veemência.
Ele estava de pé, parecendo indeciso. Podia vê-lo pensando.
Provavelmente considerando qual era a próxima de sua lista para convidar para
uma voltinha em Nova York. Deus, homens podem fazer você se sentir um lixo.
– Clem?
Ela se virou enquanto as mãos de Luke se fechavam em torno de seu
braço.
– Você está bem, querida? – Ele olhava Serge de cima a baixo. –
Você a está perturbando, companheiro?
Em qualquer outra situação, a postura repentinamente agressiva de
Luke teria sido engraçada. Era como um suricato enfrentando um tigre siberiano.
O olhar de Serge se estreitara nas mãos de Luke, e ela não podia
acreditar no que estava presenciando. Será que realmente acreditava que ela
agora pertencia a ele? Um encontro apenas e seu corpo era dele de modo que
pudesse levá-lo à sua cobertura para seu uso? Ele ia agredir Luke? Porque ela
não achava que seu gentil amigo ia sair com a cara muito intacta!
Ela balançou a cabeça para Luke.
– Está tudo bem, querido. Vamos voltar. – Ela lançou um olhar
congelante a Serge. – Vamos parar por aqui.
Serge gelou. O que diabos tinha acontecido?
Ele não tinha sido suficientemente explícito em tudo que ofereceu
a ela? Era um negócio muito lucrativo além do sexo. O que estava acontecendo?
Ela esperava algo mais?
Tudo bem, talvez ele tivesse sido um pouco arrogante sobre isso.
Mas estava convencido de que ela diria sim.
Ela disse que não. Ela disse que
não?
E agora Clementine estava com esse cara metrossexual que parecia
um cão de guarda.
Como se ele fosse machucar uma mulher. De repente, o que parecia
simples e direto tornou-se um grande erro.
– Entendi sua resposta, Clementine – disse ele, formalmente. –
Perdoe-me se a ofendi. Não era para ser assim. Aproveite o resto da sua estada.
Suas boas maneiras paralisaram Clementine. Os últimos minutos eram
uma confusão em sua cabeça. Talvez ele não a tivesse abordado. Talvez fosse uma
oferta para passar um tempo com ele, seu melhor esforço para ajustá-la em sua
agenda. Serge disse que tinha negócios em Nova York. Não era uma viagem de
lazer para ele. Provavelmente só quisesse conhecê-la...
Ela o tinha interpretado mal? Era apenas um convite inocente de um
homem muito ocupado?
De repente, o mundo inteiro parecia se estreitar, inclusive a
visão que ela possuía acerca dos ombros musculosos de Serge, enquanto se
afastava.
Será que o veria novamente?
Você nunca vai encontrar
alguém como ele novamente, uma pequena voz sussurrou em sua cabeça.
Você sabia disso ontem, no momento em que bateu os olhos nele. Sabia que ele
era especial.
E talvez ele esteja se sentindo exatamente como você, e você disse
aquelas coisas terríveis para ele.
O que ela fez?
O que ela fez?
Seus pés estavam se movendo. Ela podia vê-lo a uma longa distância
agora. Queria correr, mas seria inútil. Podia vê-lo entrando no carro. Clementine
abriu a boca para chamá-lo, mas sua garganta se fechou e então ela apenas parou
morta no meio da calçada, enquanto seu carro partia.
Ainda tinha o celular de Luke. Tinha o número de Serge. Começou a
procurar em sua bolsa. O que diria a ele? Mudei de ideia. Quero ir. Quero ver aonde isso me
levará... Aonde você me levará...
– Clem, o que é está acontecendo?
A realidade da voz de Luke a fez colocar o telefone de volta em
sua bolsa, o frenesi de sentimentos retrocedendo. Luke a ajudou a recolher os
pedaços quando o incidente de Joe Carnegie explodiu. Ela dormira no quarto
extra dele e de seu companheiro Phineas por uma semana, e ele cuidou dela com
toda a bondade e ternura que nunca tinha encontrado em nenhum dos caras que
namorou.
Serge Marinov não era diferente. Imaginou-o como seu herói, mas
sua história dizia que não funcionaria.
Seu melhor amigo Luke era um lembrete de que ela merecia mais.
Havia trabalho a fazer e ela se manteve ocupada durante toda a
tarde bajulando a representante esnobe de uma grande revista de moda que estava
hospedada no Grand Hotel Europe, em vez de no hotel Astoria.
Tente o edifício Vassiliev, pensou, enquanto tagarelava sobre a
história incrível do Grand Hotel. Ironia dolorosa que ela só soubesse dessas
histórias porque Serge havia dito a ela durante seu encontro mágico. Ela deve
ter sido convincente, pois a mulher, amolecida, reservou uma suíte maior no
hotel.
Eu consigo, pensou, caminhando pelo átrio. Passaria a noite com
Luke, incapaz de enfrentar mais uma noite no buraco de pulgas. Seu vestido
estava lá em cima e pretendia tomar um longo banho quente.
Tinha uma festa para ir. Podia ir a festas. Seu problema era com
homens.
NA INAUGURAÇÃO,
Clementine cumprimentou diversas pessoas distraidamente. Adorava esse vestido
de veludo preto. Era elegante e lisonjeiro, e Verado emprestara a ela um colar
de diamantes. Era um anúncio ambulante aquela noite, o que parecia conveniente.
Era boa em seu trabalho, o que a fazia se sentir bem consigo mesma.
Se os homens pensavam que poderia ser comprada, provavelmente
fosse hora de começar a afirmar sua independência financeira.
Ela ganhava razoavelmente bem. Só tinha o hábito de comprar roupas
caras. Mas tinha 25 anos. Era hora de parar de viver como uma adolescente e
começar a olhar para o seu futuro. O marido de contos de fadas e três filhos
poderiam nunca se materializar e, dada sua história romântica e o desastre de
hoje, pareciam mais longe do que nunca. Precisava cuidar de si mesma.
Proteger-se. O que significava se estabelecer em sua carreira.
Estava se afastando de um grupo de compradores quando o viu.
Era difícil não notar 1,95m de masculinidade russa. Vestia um
smoking, seu cabelo rebelde estava penteado. Parecia devastador, um homem
poderoso entre muitos homens menores e por um momento ela apenas olhou. Até que
percebeu que o cavalheiro mais velho com quem ele falava era Giovanni Verado.
Por que ele estava ali? Sabia que esse era o seu trabalho.
Clementine certamente falara mais do que devia na noite anterior. Ela disse
algumas coisas indiscretas sobre Verado. Serge não tinha mencionado uma conexão
com o proprietário. Aliás, ele não falava muito sobre sua vida.
De repente, sua boca ficou seca e as palmas das mãos, úmidas.
Ela não acreditava que ele fosse dedurá-la. Por que o faria? Por
que Verado se preocuparia com suas opiniões, desde que ela fizesse seu
trabalho?
Não, o que a preocupava era que ela de repente percebeu que não
sabia nada sobre ele além do fato de que fazia seus sentidos rodopiarem cada
vez que olhava para ela.
Agora seu coração estava pulando na boca porque ele estava lá, e
não poderia ser uma coincidência.
Serge viera por ela.
O nervosismo borbulhou em sua barriga como champanhe. Todas as
histórias que disse a si mesma sobre Serge Marinov ser apenas um cara qualquer
se desintegraram quando considerou a possibilidade de ter uma segunda chance
com ele.
Clementine puxou seu vestido, ajeitou seus ombros e ergueu a
cabeça. Não ia tornar seu encontro mais difícil do que precisava ser.
Havia um monte de pessoas entre eles e, em seguida, houve uma
abertura no meio da multidão e ela viu o que tinha perdido antes. Havia uma
mulher com ele, uma morena esbelta em um vestido azul cintilante. Ela era
bonita, talvez em torno dos 30, e tinha a mão em seu braço. Clementine parou.
Quase. Ela quase se fez de boba.
Outra mulher. Bem, foi rápido. Mas o que esperava? É claro que era
exatamente o que ela esteve pensando de manhã. Não “estou
desapontado porque Clementine não virá comigo”. Simplesmente, “qual é a próxima da fila”?
Seus ombros caíram. Sentia como se estivesse recebendo um curso
intensivo de padrões de acasalamento masculino. Era mesmo tão fácil para Serge?
Ela se abrira para uma conexão entre eles na noite anterior e não podia
fechá-la tão facilmente. Isso não significava nada para ele?
Clementine suprimiu a forte dor no peito. Ela era uma idiota. Ele
e Joe Carnegie... Ambos mereciam um castigo.
Exceto que agora reconhecia que Serge realmente não era nada
parecido com Joe. Ele não tinha escondido nada. Provavelmente em seu mundo era
assim que essas coisas eram feitas. Ele dificilmente seria seu namorado.
Não conseguia imaginá-lo, em uma noite de sexta-feira, passando em seu
apartamento com uma pizza e deitando-se no sofá, esfregando seus pés.
Ele virou a cabeça de repente e examinou a multidão. Clementine
congelou. Sabia que ele havia lhe avistado porque sentiu um choque da cabeça
aos pés. Ela reconheceu a dilatação daqueles olhos verdes, os seus próprios
provavelmente estavam enormes em seu rosto congelado. Ela esperou que Serge a
repudiasse, mas ele parecia determinado.
Virou-se antes que visse algo que pudesse fazer picadinho de seus
sentimentos e caminhou cegamente em direção ao bar. Ela precisava de uma bebida
e rápido.
Chegou ao bar e pediu um Bloody Mary. Não era algo que normalmente
bebesse, mas ela precisava de algo desconhecido para sair daquele humor. Antes
que ele chegasse, ela o sentiu, em vez de vê-lo. A solidez de seu corpo, o giro
da cabeça de outras pessoas. Havia gente em todos os lugares, esbarrando
cotovelos, mas ela sabia que era ele.
Ela gravitava em direção a ele como um planeta ao sol, e olhou em
seus olhos.
– Sim – disse suavemente, depois completou desesperadamente. –
Gostaria de ter dito sim. Devia ter dito sim.
Ele parecia atordoado. Eu sou louca, pensou Clementine. Por que
disse isso? Ele não se importava.
Serge experimentou a onda de frustração familiar ligada a ela.
Qual era seu jogo?
Conforme Clementine abriu caminho através da multidão, seu
primeiro instinto foi persegui-la. No entanto, tudo o que podia fazer era vê-la
desaparecer na multidão.
Pode fugir. Você não vai
muito longe.
Tinha que lidar com Raisa antes de tentar algo mais ousado com
Clementine e isso requereria tato, mas uma vez que estivesse livre, iria atrás
dela.
Era melhor que Clementine fosse capaz de correr rápido, porque ela
havia acabado de se declarar a ele.
Autor: Lucy Ellis